Minha família, assim como muitas outras, em algum momento já se sentiu desamparada com planos ou operadoras de saúde quando mais precisava.
Mesmo pagando há anos, meus familiares tiveram que desembolsar valores que não foram planejados em momento de vulnerabilidade física e emocional. E essa é uma experiência que acaba se tornando comum no segmento quando as empresas priorizam custos em vez da saúde dos clientes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, menos da metade da população mundial tem acesso a serviços básicos de saúde.
Todos os anos, 800 milhões de pessoas gastam pelo menos 10% do seu orçamento doméstico em médicos – e cerca de 100 milhões de pessoas são levadas à extrema pobreza devido a custos inesperados de saúde.
No Brasil, a situação não é diferente. Oitenta porcento da população não tem seguro e, para a grande maioria, os custos com consultas particulares são inviáveis, o que faz com que a única opção para grande parte dos brasileiros seja o SUS.
No Serviço Único de Saúde, sabemos, com a demanda em excesso, infelizmente pode levar meses para que seja possível agendar uma consulta, por exemplo.
A DESIGUALDADE É NOSSO PRINCIPAL PROBLEMA DE SAÚDE
É hora de aceitarmos que as desigualdades na saúde não são uma nota de rodapé para os problemas que enfrentamos: são os principais problemas de saúde.
Acesso à saúde deveria ser um direito básico de todos.
Acredito que novas tecnologias são ferramentas fundamentais para melhorar o acesso não só a serviços, mas também à informação, principalmente para a base da pirâmide.
Hoje, já temos serviços que combinam, por exemplo, inteligência artificial, machine learning e big data para dar diagnósticos mais precisos.
Sem precisar efetivamente consultar um médico, em poucos cliques e com algumas perguntas respondidas em um app, no sofá da sua sala, você pode ter alternativas de diagnósticos que têm mostrado um grau de assertividade excelente.
Um exemplo disso é o ADA, empresa europeia de inteligência artificial voltada para diagnósticos.
COMO AS TECNOLOGIAS ESTÃO MUDANDO O CENÁRIO
Já é possível usar robótica para cirurgias de precisão ou inclusive cirurgias a distância, nanotecnologia para diagnóstico ou para o combate direcionado a doenças específicas.
Também é possível, inclusive, por um valor extremamente acessível, ter todo o seu mapeamento genético através de serviços como o 23andme, coisa que antes era inimaginável devido ao custo.
Não podemos esquecer os wearables que estão cada vez mais presentes nos mais diversos tipos e formatos, e conseguem traquear suas funções corporais, como índice glicêmico, batimento cardíaco, oxigenação, pressão arterial etc.
Outra tecnologia que ainda está em fase de desenvolvimento e aperfeiçoamento, a computação quântica tem mostrado que será uma ferramenta fundamental para iniciar uma era de cuidados de saúde extremamente personalizados.
SOLUÇÕES QUE SEQUER IMAGINAMOS VÃO SURGIR
As possibilidades com novas tecnologias são inúmeras e muitas soluções que vão surgir ainda são inimagináveis. Mas o fio comum que podemos observar em sua grande maioria é voltado para o poder da informação e da individualização.
Estamos embarcando em um momento em que cada indivíduo terá seus próprios dados médicos e o poder da computação para processá-los no contexto de seu próprio mundo.
Haverá informações médicas abrangentes sobre uma pessoa que será facilmente acessível, analisável e transferível.
Isso configurará uma mudança de potência tectônica, colocando o indivíduo, o paciente, no centro do palco.
E só esse “shift”, em que o poder passa dos vendedores para os compradores e os pacientes estão mais no comando, já tornará o acesso e cuidados de saúde muito menos frustrantes.
O QUE PODEMOS FAZER COM O QUE TEMOS?
Quando falamos em acesso, não podemos nos referir apenas à parte financeira. Não é quanto você tem que é o fator mais importante – mas, sim, o que você pode fazer com o que você tem.
A grande maioria da força médica e dos grandes nomes da medicina no Brasil está concentrada nas regiões Sul/Sudeste. Em muitas cidades afastadas das grandes capitais, é quase impossível ter acesso a hospitais e clínicas no momento que quiser ou que precisar, independentemente de quantos recursos você tenha.
Isso, por exemplo, é um problema que pode ter parte da sua solução na telemedicina, que é uma solução ainda recente no Brasil, mas já funciona regularmente em muitos outros países – e a qual vejo como uma ferramenta fundamental para promover ainda mais o acesso à saúde.
Agora as pessoas não precisam mais viajar ou ir ao hospital para conseguir atendimento com profissionais de qualquer parte do Brasil na hora que quiserem.
Muitos ainda têm receio sobre as novas tecnologias que substituem médicos ou o toque humano. Essas tecnologias ajudarão a humanizar ainda mais a saúde, por oferecerem grande ajuda em análises de imagens, medicamentos, diagnósticos, ou seja, na detecção e combate à doença.
E, com isso, acaba sobrando muito mais tempo e espaço para os profissionais de saúde cuidarem da parte mais importante dessa equação: o paciente.
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Felipe Burattini é formado em Publicidade e Propaganda e é fundador e CEO da Dandelin, startup que combina A.I. e princípios de economia compartilhada para democratizar o acesso à saúde.