Foi em 2016, em um espaço ocioso dentro da Faculdade de Medicina do ABC, que Victor Fiss largou o curso de administração para dar o pontapé em seu grande sonho: uma healthtech verticalizada, cujo intuito é levar consulta de qualidade aos pacientes por um preço acessível, além de tecnologia para o setor.
“Eu digo que é um serviço premium low cost”, brinca o empresário.
Naquela época, a clínica montada em um espaço cedido pela reitoria fez com que Victor pudesse ter a dimensão exata do que o seu negócio precisaria para ser sustentável.
Ele passou a entender como funciona cada uma das especialidades médicas, o fluxo e o que seria necessário de tecnologia para a operação. Mas a história de empreendedorismo voltado à saúde de Victor – que resultou na rede Cia da Consulta – pode começar a ser traçada bem antes, quando ele tinha ainda 15 anos de idade.
CLÍNICAS DE BAIXO CUSTO EM LOCAIS DE GRANDE MOVIMENTO
“Eu vim de uma família de médicos e trabalhei com meu pai, no consultório dele, fazendo de tudo. Então, nasci dentro do setor e ouvindo sobre medicina e saúde”, conta o filho de pneumologista.
Observando o setor, pensou que faria sentido criar uma rede de clínicas particulares com serviço de qualidade, mas a baixo custo. Com essa ideia, embarcou para o Maranhão para estudar o modelo de negócio: o pai de um amigo tinha um empreendimento parecido.
Foi com esse conhecimento na bagagem que ele se uniu a João Nasser Gorayb, um amigo do Insper (onde estudava), e propôs ao reitor da Faculdade de Medicina (onde o pai dava aulas) usar salas ociosas – a instituição ficaria com 50% do lucro.
Um ano depois, em 2017, Victor decidiu voar mais alto. Ele foi atrás de investidores e, de cara, conseguiu captar a quantia de R$ 1,5 milhão – o bilionário filantropo Elie Horn, fundador da incorporadora Cyrela, foi um dos que acreditaram na ideia.
O primeiro passo, então, foi procurar um local para a primeira Cia da Consulta. “Aluguei um imóvel na Praça da Sé”, lembra.
O primeiro ano (oficial) de vida da empresa foi marcado por ainda mais aprendizados. Então, nos anos de 2018 e 2019, outras rodadas foram feitas com o mesmo grupo de investidores.
Com os aportes, Victor iniciou o processo de expansão da Cia da Consulta. A busca por locais de fácil acesso para os pacientes fez com que a empresa se instalasse dentro de estações de metrô e shoppings de São Paulo. Hoje, já são nove unidades espalhadas pelo estado.
PLATAFORMA EFICIENTE VIROU NOVA LINHA DE NEGÓCIO
Outro ponto bastante pensado por Victor e sua equipe foi o formato das clínicas, que fogem totalmente do padrão. “A gente se colocou no lugar do paciente para entender a experiência dele dentro desses espaços, e decidimos personalizar o ambiente para deixá-lo mais agradável e aconchegante”, explica.
Para isso, cada unidade da Cia da Consulta possui as cores da marca. Uma forma, segundo Victor, de aproximar ainda mais o paciente da empresa.
O processo de customização não ficou apenas no layout das clínicas. Também adentrou a esfera dos profissionais que atuam dentro da Cia da Consulta.
Isso porque, ao testar algumas tecnologias já existentes no mercado, a equipe concluiu que era necessário pensar em um sistema próprio para entregar um serviço com ainda mais qualidade. Foi aí que surgiu a Mint.
“A plataforma integra todos os serviços necessários para o setor da saúde. Desde o agendamento até o prontuário, passando pela prescrição, gestão operacional da clínica e integração com parceiros B2B”, explica Victor.
A tecnologia é tão promissora que diversas outras empresas de saúde compraram a plataforma e estão usando em suas sedes. “Percebemos que a Mint poderia gerar receita e, agora, virou uma nova linha de negócio”, comemora.
MODELO INOVADOR DE REMUNERAÇÃO MÉDICA
O formato de recebimento dos honorários dos profissionais da saúde também foi bastante questionado em 2019.
“A gente olhou pro mercado e viu um problema de conflito de interesses entre hospitais, clínicas e planos de saúde com relação ao modelo de remuneração”, afirma o empreendedor.
“Por isso, resolvemos criar um novo formato, totalmente vertical, sem incentivos para o médico prescrever consultas e focando bastante na qualidade do atendimento.”
Então, de acordo com Victor, o modelo de remuneração passou a ser fixo, com possíveis incentivos de aumento dos honorários a partir de um indicador de qualidade, que envolve questões técnicas e também a visão do paciente em relação ao atendimento médico.
FORMATO HÍBRIDO FORÇADO PELA PANDEMIA
Com todos os pontos acertados – customização de espaço, tecnologia e melhor sistema de pagamento –, a Cia da Consulta estava pronta para alçar voos ainda mais altos em 2020.
Porém, em março do ano passado, veio a notícia: a pandemia estava instaurada no país. Diversas unidades tiveram que fechar as portas, já que estavam localizadas dentro de shoppings.
“O primeiro mês foi de muita incerteza, afinal de contas as pessoas estavam com receio de irem até um ambiente médico. Ao mesmo tempo, nós não tínhamos como desdobrar o atendimento”, lembra.
Mas, em meados de abril, o sistema presencial pôde dar espaço para a consulta à distância. Isso graças à sanção da lei federal que autoriza o uso da telemedicina no país.
Um mês depois, a Cia da Consulta conseguiu retomar o crescimento, além de fechar parcerias com o setor privado.
“Realizamos um projeto com o Grupo CCR em que foram feitas 50 mil consultas gratuitas para os caminhoneiros. Essa foi uma maneira que encontramos para dar segurança e apoio para o Brasil não parar”, diz Victor.
Ele ainda ressalta que o formato híbrido, com atendimentos presenciais e à distância, é uma grande aposta para os próximos anos. “O paciente vai ter a telemedicina para questões simples e práticas, o que evita a sua ida à clínica ou hospital desnecessariamente”, esclarece.
SAÚDE SUPLEMENTAR E PARCERIAS
Para 2021, e os próximos anos, o empresário dá o spoiler: “Estamos trazendo também a saúde suplementar para dentro do nosso negócio”, afirma sobre o mercado que conta com 707 operadoras ativas, segundo dados de dezembro do ano passado.
O setor de saúde suplementar encerrou 2020 com 47,6 milhões de beneficiários de planos de assistência médica – ou apenas 24,5% da população brasileira. Opções mais acessíveis são, portanto, bem-vindas.
“Cerca de 30% do nosso crescimento para este ano virá deste setor”, já projeta Victor.
O empreendedor acrescenta que pretende desenvolver o máximo de parcerias. “Queremos entender as dores do setor suplementar, para que assim possamos usar a nossa tecnologia, ou até mesmo desenvolver novas soluções para área.”
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