• Como é a solução de pesquisadores da UFPR que vai ajudar no diagnóstico de AVC

    O professor Kleber Fernando Pereira é o coordenador da pesquisa
    Jose Renato Junior | 27 dez 2021

    Confusão mental, dor de cabeça muito forte, alteração na fala, na visão e no equilíbrio, tontura e perda de coordenação – ou até mesmo paralisia em um dos lados do corpo. 

    Esses são alguns dos principais sintomas do acidente vascular cerebral, mais conhecido por sua sigla AVC. 

    O problema, que é considerado a segunda maior causa de mortes no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, atinge, por ano, cerca de 15 milhões de pessoas ao redor do planeta, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

    Uma doença com números tão alarmantes necessita de um olhar mais cuidadoso, principalmente quando a pauta é o diagnóstico.

    Afinal, muitos casos de AVC podem ser resolvidos sem grandes chances de sequela quando descobertos rapidamente. 

    Foi pensando nisso que pesquisadores do curso de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) estão desenvolvendo uma tecnologia que é capaz de fazer um diagnóstico muito mais preciso por meio de exames de imagem. 

    “A tecnologia é uma inteligência artificial que, basicamente, proporciona a um computador a habilidade de ‘enxergar’ tomografias de crânio por meio de código e aprender a identificar características delas”, explica Kleber Fernando Pereira, coordenador do projeto e professor de neuroanatomia humana na UFPR.

    Ainda de acordo com Pereira, a tecnologia já está prontamente desenvolvida. “A inteligência artificial foi treinada com aproximadamente 6 mil tomografias de crânio e conseguiu uma acurácia na identificação de AVC de 84%”, comemora. 

    A expectativa era de que a tecnologia alcançasse índices superiores a 80%. Mas os pesquisadores querem deixar a solução ainda melhor ao almejar obter uma exatidão acima dos 90%, apesar de os resultados atuais já serem bastante satisfatórios.

    Tempo para isso eles ainda têm, já que a pesquisa está prevista para acabar em julho do ano que vem. 

    “No momento, a tecnologia está em fase de validação científica. Temos planos de transformá-la em um produto virtual para que os médicos, principalmente os atuantes em pronto-atendimento, possam contar com mais uma ferramenta para auxílio diagnóstico de AVC”, diz o pesquisador. 

    “Se tudo ocorrer como planejado, ao fim de 2022 existe uma grande possibilidade de o produto virar uma plataforma virtual, onde o médico poderá enviar um arquivo de tomografia e receber prontamente um aval da inteligência artificial, que estará de plantão 24 horas por dia.”

    COMO FUNCIONA O ALGORITMO

    O acidente vascular cerebral é provocado quando ocorre uma alteração de irrigação sanguínea em uma porção do cérebro. A evolução do distúrbio depende de uma série de fatores, como o tempo em que o órgão fixou sem fornecimento sanguíneo, a área acometida e comorbidades da pessoa acometida pelo distúrbio.

    O diagnóstico é feito pela correlação entre os sinais clínicos daquele paciente e seu exame de tomografia computadorizada de crânio. Para interpretar o exame de imagem, o médico deve ser capaz de identificar a região afetada em relação às outras regiões saudáveis.

    A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores do Campus Toledo da UFPR tem como base uma rede neural criada em linguagem de programação e treinada para reconhecer os casos da doença em tomografias de crânio.

    Para isso, os especialistas ensinaram a inteligência artificial com as cerca de 6 mil tomografias coletadas em uma clínica de radiologia do município de Toledo, no Paraná.

    A IA é capaz de identificar estruturas e anormalidades nos exames que são rotuladas em quatro possibilidades: Acidente Vascular Encefálico (AVE) antigo, AVE novo, não se aplica (para traumas, artefatos, tumores, malformações) e dúvida.

    As dúvidas serão sanadas mensalmente por meio de videoconferência com um médico radiologista voluntário.

    A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA PARA O DIAGNÓSTICO

    A maior parte dos pacientes vitimados por AVC apresenta manifestações clínicas bastante características e sugestivas do quadro, e o médico pode realizar o diagnóstico sem mesmo precisar de uma tomografia. 

    Apesar disso, na maioria das vezes, a tomografia é solicitada para entender a localização e o tipo do AVC que acometeu o paciente. 

    “Frequentemente, a tomografia apresenta sinais muito tênues da doença, o que pode facilmente confundir o clínico que a interpreta”, diz o coordenador do projeto. 

    “A inteligência artificial pode impactar positivamente em casos como esses.”

    A tecnologia é tão importante porque o paciente vítima de AVC que recebe um manejo rápido e eficiente tem maiores possibilidades de tratamento e chances de sobrevida e com menos sequelas. 

    “Milhões de neurônios morrem a cada minuto que o cérebro está sem suprimento sanguíneo”, explica Kleber. 

    “Se o paciente é rapidamente encaminhado a um serviço especializado, o tratamento pode diminuir muito os danos do AVC, impedir sua progressão e, em alguns casos, até revertê-los.”  

    A tecnologia não beneficia apenas os pacientes, mas também os profissionais da saúde. Isso porque frequentemente esses especialistas se deparam com uma situação em que sua conduta pode mudar drasticamente o desfecho de algum caso. 

    “Com uma tecnologia como esta, o médico terá uma ferramenta valiosa no momento da tomada de decisão e poderá contar com um suporte para fechar ou descartar o diagnóstico do paciente de forma rápida e acurada”, argumenta o coordenador do projeto.

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    Colaborou com a matéria Rodrigo Ribas Azzolini, estudante de medicina da UFPR.

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