• Prometendo reduzir dois terços do custo das empresas com saúde ocupacional, bem.care aposta no mercado B2B

    Jose Renato Junior | 7 jun 2021

    Engenheiro de formação, Haissan Nunes Molaib nunca fritou profissionalmente seus neurônios fazendo cálculos que não fossem de economia. Ainda na Universidade Federal Fluminense, ele começou a trabalhar no mercado financeiro – do qual só saiu para empreender.

    Foi o mercado financeiro, aliás, que o incentivou a empreender. Primeiro, criou a ProRadis. Depois, a bem.care. Ambas são startups voltadas ao universo da saúde – setor no qual Haissan resolveu apostar após fazer teses de investimento para os fundos com os quais trabalhou.

    “Olhamos muito para as movimentações que aconteciam em medicina diagnóstica”, diz ele. “E eu sempre tive uma veia empreendedora. Gostava muito de conversar com os donos de empresa, de ver as histórias, a dinâmica de construção. Achava isso fascinante.” 

    Estudando a área pela qual começava a se interessar, Haissan percebeu  algumas oportunidades. “Vi que poderíamos construir uma tecnologia que pudesse conectar centros de diagnóstico de regiões remotas com profissionais que tivessem nas capitais”, conta. 

    Isso solucionaria um problema que ele chama de “má distribuição demográfica da densidade médica”. Ou seja, “tem muito médico em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília e pouco no Norte e Nordeste”. 

    Em 2013, Haissan lançou a ProRadis. O objetivo, segundo ele, era conectar de forma digital quem precisava de laudo radiológico e os profissionais que podiam oferecer isso. 

    “Na saúde, no entanto, existe muito um momento certo de se fazer as coisas”, conta. “O mercado é conservador em relação à inovação. Não é muito fácil criar algo novo e colocar isso para um grande player.”

    Ao perceber que a abertura para essa solução ainda não estava exatamente madura, porque muito pouca gente fazia telerradiologia na prática, ele decidiu, em vez de insistir na ideia, olhar para o mercado e ver o que o ele precisava. 

    A startup então pivotou: virou uma solução de gestão para laboratórios de diagnóstico. O sistema processava as imagens de exames de ultrassom e ressonância, por exemplo, e fazia a gestão do diagnóstico integrado com a máquina. Assim, reduzia a burocracia e otimizava processos – mais tarde, em 2019, a solução de telerradiologia da empresa foi enfim lançada. 

    “Sempre pensei em construir coisas que gerassem resultado, em buscar soluções para problemas reais. Talvez, se eu não tivesse essa visão até um pouco old school, a gente apostaria na telerradiologia naquela época”, Haissan confessa. 

    “Mas eu pensava que precisávamos de um produto que gerasse caixa, que tivesse demanda imediata. Estava pensando mais na inovação incremental do que na inovação radical.”

    UM IMPORTANTE NETWORKING EM UM PROGRAMA DE ACELERAÇÃO

    Em 2014, a ProRadis foi escolhida para ser acelerada pelo hub Wayra, da Vivo. Ao lado do sócio Eduardo Ribeiro, formado em informática biomédica, Haissan passou a frequentar os departamentos (e as rodas de conversa) da empresa de telefonia. 

    “Conversando com eles sobre oportunidades na área da saúde, a gente percebeu que era possível desenvolver um projeto para a Vivo unificando alguns produtos que eles já tinham.”

    Esse produto foi lançado – e criou a semente do que viria a ser o bem.care.  

    O produto em si era uma plataforma de saúde para que as pessoas pudessem comprar consultas e exames médicos, e também os realizasse em uma rede credenciada. “Chegamos a ter 4 milhões de usuários. Mas não era um produto nosso, era quase uma solução de software house.”

    Haissan e Eduardo então pensaram em lançar um marketplace de saúde próprio. “A gente montou o bem.care e desenvolveu o produto ao longo de 2018 e 2019”, relembra Haissan. 

    Na época, até por uma questão de não-regulamentação da telemedicina, as soluções eram muito focadas em rede presencial. “Até estávamos pensando na questão do atendimento online, mesmo que não fosse na parte médica”, ele explica. 

    Já havia a possibilidade de que consultas com psicólogos fossem feitas remotamente, por isso a tecnologia para isso estava sendo desenvolvida pela startup.

    “No fim de 2019, a gente fez uma rodada com dois investimentos estratégicos. E, no começo de 2020, começamos a acelerar o desenvolvimento da plataforma web. E então veio a pandemia.”

    EM UM MÊS, A SOLUÇÃO PARA TELEMEDICINA ESTAVA EM PÉ

    Como aconteceu em todos os negócios, a pandemia de Covid-19 obrigou as empresas a acelerarem. Em abril, portanto, a plataforma para telemedicina estava pronta para rodar.

    “Passamos a oferecer então consultas online com nutricionistas, psicólogos e médicos. De cerca de 5 mil usuários que nós tínhamos, nossa base cresceu para 50 mil usuários nos seis primeiros meses de pandemia.”

    A plataforma, que era originalmente um marketplace de saúde, para escolha e agendamento de consultas e exames presenciais, adquiriu novas funcionalidades. 

    “O usuário pode passar eventualmente numa consulta online, receber uma solicitação de exame do médico e já realizar o exame na nossa rede presencial”, diz o CEO Haissan.

    “Ela passou a ter esse conceito de estrutura unificada de serviços.”

    Com a pandemia, o mercado começou a ofertar soluções para atendimento domiciliar de exames e vacinas – o que foi incorporado pela bem.care. 

    “Em 2020, viramos um marketplace para o mercado B2C de consultas, vacinas, check-ups e exames, que poderiam ser feitos presencialmente ou em casa.” O pagamento do serviço é feito na hora da compra, por cartão de crédito. 

    FEEDBACK IMPULSIONOU NOVOS SERVIÇOS

    No ano passado, com o crescimento da base, a bem.care começou a ter bastante feedback dos clientes. “Começamos a perceber uma demanda de empresas buscando serviços online para oferecer para os colaboradores, especialmente em relação à saúde mental, acompanhamento médico e até exames”, diz Haissan que, depois, incorporou entre estes testes de Covid-19. 

    Sem estrutura ainda para atender o mercado B2B, ele e Eduardo resolveram fazer um piloto com algumas empresas de amigos. “Duas coisas se mostraram essenciais: saúde ocupacional, que é algo que toda empresa tem que ter, e campanhas para a prevenção de doenças e promoção de saúde”, explica o empreendedor. 

    Ele e o sócio sabiam que, com a tecnologia, era possível associar os dois serviços. “Trabalhando bem a parte de saúde ocupacional bem e trazendo o dado coletado pelo médico do trabalho, a gente conseguiria gerar insights para campanhas de saúde mental, de alimentação saudável, de controle de diabetes, de hipertensão, já com foco num público que realmente demanda aquele tipo de serviço”, afirma. 

    “Conseguiríamos, assim, um perfil epidemiológico não gerado pelo paciente, mas pelo médico, o que tem um valor muito grande.”

    Hoje, explica Hassan, a maioria das empresas que contrata saúde ocupacional paga um valor mensal por vida contratada. “Esse valor, geralmente, é de duas a três vezes mais caro do que o custo dos serviços”, afirma. 

    “Com a gente, a empresa pode economizar até dois terços do que gasta em saúde ocupacional. E, com essa economia, pode investir em campanhas de prevenção.”

    O que a bem.care passou a oferecer agora para o mercado B2B é, portanto, reduzir o custo da empresa com saúde ocupacional ou melhorar a qualidade de assistência com o mesmo valor que já gasta – ou com um valor muito próximo. 

    Haissan dá um exemplo recente de uma empresa com a qual negociou: a companhia gastava R$ 7200 por mês com saúde ocupacional. 

    “O gasto é reduzido em cerca de R$ 4800, o que corresponde a 100 sessões de psicólogo, 100 com nutricionista, 80 consultas com o médico para acompanhar atenção primária, 40 check-ups do coração, 40 check-ups de diabetes, 40 vacinas de gripe”, conta ele.

    O preço reduzido, diz o empreendedor, é conseguido por meio da capacidade de negociação que ele tem, com volume e melhor do que uma empresa conseguiria individualmente. 

    “Eu negocio em massa e meu modelo é com pós-pagamento: só paga o que utilizar.”

    Hoje, o B2C ainda é responsável pela maior parte do faturamento da bem.care, mas os clientes B2B já começam a chegar. 

    “Oferecemos também uma solução para administrar as áreas de saúde da empresa”, explica o CEO.

    “Não temos, portanto, só a ferramenta, mas também o serviço para que a empresa tenha economia e possa, se eventualmente tiver interesse, alocar esse recurso com campanhas que sejam efetivas para a melhoria de saúde dos colaboradores.”

    A bem.care conta com uma rede extensa de quase 2 mil parceiros, como o grupo Fleury e o Sabin, e 3 mil prestadores no país todo. O benefício pode ser contratado em diferentes formatos mesmo por empresas que já têm planos de saúde convencionais – nesse caso, como um complemento. 

    “Nosso foco total é no B2B, um mercado que tem muito espaço a ser explorado”, conta Haissan. “A maior parte dos planos de saúde, hoje, é pago pelas empresas. Por isso, as vejo como uma grande frente de melhoria na própria condição de saúde dos brasileiros.”

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