Sou uma pessoa que gosta de discutir a parte prática do negócio. Podemos até filosofar, mas é fundamental direcionar o foco para o que temos de concreto, a fim de atingirmos objetivos.
O tema open health está no radar do mercado de saúde e para os mais ligados em tecnologia e inovação, então, já soa familiar. Recentemente, o ministro da saúde levou a discussão a público e o debate, sem dúvida, é saudável. O que gostaria de questionar é a abordagem.
Falar sobre a necessidade de reduzir custos, lamentar a falta de sistemas digitalizados na maioria dos hospitais brasileiros, apontar as falhas na padronização dos dados ou ficar só na constatação de que é preciso compartilhar dados, é chover no molhado. Já conhecemos nossos problemas e, sim, eles representam grandes desafios que teremos pela frente.
Mas será que passaremos cinco anos somente divagando, sem, de fato, ter avanços na implementação do open health no Brasil?
A ideia do open health bebe na fonte do open banking. Assim, dá para fazer um paralelo entre os dois. De modo bem simplificado, quando eu passo a compartilhar o meu histórico com outras instituições financeiras, provavelmente vou receber ofertas de produtos e serviços que serão economicamente melhores para mim. Vou provocar o aumento da concorrência de empresas querendo falar comigo.
Com o open health, posso compartilhar meus dados clínicos com empresas que oferecem produtos e serviços de saúde e, com essas informações, elas terão capacidade de criar produtos e serviços mais compatíveis com minha realidade clínica. Assim, ganharei custo menor, maior efetividade e uma atenção melhor.
Em resumo, open health permite ao paciente compartilhar seus dados, de forma segura, ética e respeitando a LGPD, com empresas prestadoras de serviço, profissionais de saúde e governo, que vão conseguir, com base nessas informações, entregar soluções melhores e mais customizadas. Aí está o valor, a palavra-chave!
Para tornar o open health uma realidade, precisamos ter claro porque queremos ir nesse sentido, ou seja, que valor queremos entregar — não necessariamente monetário, mas um valor real que seja percebido pelo paciente. Esse é o primeiro passo para construir as soluções que realmente precisamos para entregar o valor final imaginado.
Sempre vão existir oportunidades entre o serviço que as empresas oferecem e o que os pacientes precisam e querem. Na hora em que você olha para esse descasamento, consegue oferecer soluções melhores. Acredito que esse caminho pode revolucionar a área da saúde.
Com base no valor em que focamos, podemos analisar quais são as barreiras para realizar essa entrega. Que problema precisamos resolver? Estamos tentando resolver um problema que tem a ver com a jornada do uso do medicamento, por exemplo? Então, precisamos criar uma base única nacional de medicamentos que sirva a todo o mercado (pois é, não temos isso no Brasil!).
Adoro o exemplo do Pix. O caso tem uma lógica clara: fazer transferência, em tempo real, sem custo. Ele pegou a dor exata da população e, por isso, é um sucesso. Tem pontos de melhoria? Óbvio, mas continua um sucesso.
Torço para que você me peça um exemplo em saúde, e não em finanças.
O que foi feito durante a pandemia, em que o controle de vacinas disponibilizou informações para o próprio paciente, é, para mim, a prova de que é possível tornar o open health uma realidade com as condições que temos.
Naquele momento, havia a necessidade urgente de saber se as pessoas foram vacinadas e de quantificar os diagnósticos positivos de COVID-19. Ou seja, havia uma necessidade clara para o compartilhamento de dados e o seu valor. Logo, o mercado rapidamente aderiu.
Para o sucesso do open health, precisamos de foco inicial, pois sabemos que não dá para resolver tudo de uma vez. O negócio é ir por partes, definir os valores que se quer extrair e incrementar essa experiência com o paciente até se transformar em algo universal. Porque, se quisermos abraçar o mundo, o open health não vai acontecer.
Temos que aprender com os acertos em outros mercados e imitar o que foi bem sucedido. Vamos focar em criar uma solução, definir quem tem o perfil desse uso, medir adoção, engajamento e satisfação, e iterar com os aprendizados. Não tem segredo.
No final do dia, somos todos atores do mercado da saúde. Às vezes, como pacientes, como profissionais da saúde, como fornecedores e gestores. Sendo assim, o assunto é de responsabilidade e de interesse para todos nós.
* Lasse Koivisto é CEO e sócio da Prontmed, healthtech focada na criação de uma plataforma de dados clínicos para o mercado de saúde. Lasse também é diretor do Conselho na Aliança para Saúde Populacional (Asap). Mais informações em https://www.linkedin.com/in/