• De olho nos tabus masculinos, Omens oferece consultas e tratamentos com urologistas de maneira digital – e discreta

    Olivier Capoulade, o cofundador e CEO da Omens
    Jose Renato Junior | 2 ago 2021

    O homem brasileiro tem uma trava histórica com a própria saúde. Tabu, preconceito, desleixo e machismo impedem que uma quantidade considerável e assustadora da população masculina cuide do corpo. 

    Previsivelmente, quando se olha para dentro da cueca, os números são alarmantes. Segundo dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Urologia, mais da metade dos homens jamais foi a um urologista (enquanto oito de cada dez mulheres vão com frequência ao ginecologista). Entre os homens menores de 18 anos, somente 1% já se consultou com esse especialista.

    Uma pesquisa de 2018 da plataforma de agendamento de consultas médicas Doctoralia indicou que 71% dos homens têm algum tabu quando o assunto é saúde – e nem é preciso realizar um levantamento estatístico para saber que entre esses tabus está o exame de próstata, além de questões envolvendo saúde sexual.

    De olho nesses brasileiros, dois franceses que já conheciam bem o país lançaram, no fim de 2020, uma empresa que promete ampliar o acesso a urologistas sem comprometer a privacidade. 

    O tabu até que diminuiu nos últimos anos, segundo análises da revista Veja Saúde (antiga Saúde É Vital), mas a um ritmo lento. Então, se ele não acaba, que pelo menos os homens cuidem mais da própria saúde. 

    Essa é a ideia simples e funcional por trás da Omens. Uma plataforma online para os homens se informarem, se consultarem e se tratarem com urologistas. 

    Um outro motivo que levou à criação da startup é “o percurso fragmentado para o tratamento”, nas palavras de Olivier Capoulade, cofundador e CEO da Omens. 

    “O paciente se informa em um lugar, pede diagnóstico e tratamento em outro para depois comprar a solução em um terceiro lugar. O processo é esgotante”, diz. Além disso, segundo ele, cada um desses lugares varia na qualidade e no custo. A proposta da Omens é oferecer as três etapas no mesmo ambiente.

    A regulamentação da telemedicina em caráter emergencial, por causa da pandemia, ajudou um bocado na criação da Omens, mas Olivier frisa que não se trata de uma mera plataforma de teleconsultas, mas de algo que oferece “tratamentos dos problemas de saúde sexual masculina” com conteúdo, diagnóstico e possibilidades de busca de cura em um só lugar.   

    A Omens trata de problemas de ereção, ejaculação precoce e libido. Segundo a Sociedade Internacional de Medicina Sexual (ISSM), 90% das patologias ligadas a esses problemas podem ser resolvidas com atendimento remoto. 

    Ou seja, a maioria dos casos atendidos pela Omens pode ser atendida no ambiente online, mas, se for preciso, o paciente é encaminhado a uma clínica ou consultório.

    CONSULTAS, MEDICAMENTOS E CURSOS

    Morgan Autret, cofundador da Omens

    O paciente se inscreve no site, preenche um prontuário e marca a consulta, que custa a partir de R$ 69 e pode ser feita por mensagens, telefonema ou vídeo. Ainda não há atendimento via plano de saúde, mas é algo que a Omens pretende oferecer no futuro. 

    Caso seja necessário, o paciente pode encomendar medicamentos, que são entregues em casa, “em embalagens discretas”. A rede de farmácias parceiras atende em todo o território nacional, mas é possível também baixar a receita assinada digitalmente pelo médico e comprar pessoalmente. 

    A Omens oferece ainda cursos (“controle de ejaculação” e, em breve, “controle de ereção” e “libido”) e consultas com psicólogos.

    “Diferentemente do que pareceria mais lógico, os jovens têm tantos problemas como os mais velhos. A diferença está nas causas, que na maior parte são mais psicológicas do que físicas”, diz Morgan Autret, cofundador e CMO. 

    “Em um estudo recente que fizemos com o Datafolha sobre o tabu da ereção no Brasil, descobrimos que 39% dos homens brasileiros acima dos 60 anos sofrem regularmente de disfunção erétil e que a taxa para jovens entre 18 e 35 anos é de 38%”, diz. O infográfico no fim desta reportagem traz mais detalhes sobre o assunto.

    “Isso é só para a disfunção erétil, mas pode acreditar que se reflete também em outras patologias, como perda de libido ou ejaculação precoce.” Ou seja, segundo a dupla, o público da Omens reflete a população masculina brasileira (embora eles não entrem em números relativos a isso).

    PLANOS DE AMPLIAÇÃO PARA ATENDER OUTRAS DORES

    Com menos de um ano no mercado, a Omens já quer ampliar seus serviços. Hoje são sete funcionários e um faturamento que cresce mais de 30% ao mês (em junho foi de R$ 110 mil). 

    Os franceses querem atender outras dores e patologias, algumas mais ligadas à saúde dos homens, como queda de cabelo, outras nem tanto, como perda de peso, diabetes e problemas de sono.

    A Omens é a primeira iniciativa de Olivier e Morgan no mercado de saúde. Eles têm experiência em outro mercado bastante regulamentado, o aeronáutico. 

    Olivier Capoulade era COO da Voom, braço da Airbus que vendia voos de helicóptero via aplicativo, até ela fechar as portas por causa da pandemia, em 2020. Morgan Autret trabalhou no lançamento da Aero, companhia aérea de Garrett Camp, cofundador do Uber.

    Olivier veio ao Brasil pela primeira vez em 1999, a trabalho. Morgan chegou em 2007 para estudar na Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. Entre idas e vindas, os dois já têm mais de duas décadas de vivência no país. Agora sócios de uma empresa nacional, eles não pretendem sair do Brasil tão cedo.

    Veja no infográfico abaixo algumas das descobertas que a Omens fez com a pesquisa do Datafolha.

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