Um laboratório portátil que promete exames rápidos, pouco invasivos e baratos. A Hilab já vinha se destacando com suas inovações, mas a pandemia e todas as mudanças e inquietações que ela impôs à população fizeram a empresa dar um salto significativo de relevância no mercado. Em 2020, o “portátil” de seu laboratório atingiu outro patamar e ganhou as ruas.
Em 2017, quando iniciou suas atividades em Curitiba, no Paraná, a Hi Technologies foi considerada o primeiro serviço de telemedicina diagnóstica do Brasil. No início, ela se concentrava em grandes redes de farmácias presentes em diversos estados, como a cearense Pague Menos, a gaúcha Panvel e a mineira Araujo.
Com a chegada da pandemia, a empresa enxergou que não só era possível como também necessário estar presente em mais lugares. Ela costurou parcerias com empresas, órgãos públicos, clínicas, convênios e prefeituras, e passou a disponibilizar seus serviços em lugares como o Sesi, o Clube Athletico Paranaense e a Favela da Rocinha.
“Nosso diretor médico, que é infectologista, já tinha sinalizado no fim de 2019 que a Covid-19 ia chegar no Brasil. Com isso, fomos estudando e nos preparando”, lembra Marcus Figueredo, CEO da empresa.
“Isso nos deu a oportunidade de ser a primeira empresa a lançar o teste laboratorial remoto” – algo que aconteceu em 13 de março do ano passado, quando o Brasil ultrapassou a marca de 100 casos confirmados da doença. Hoje, são mais de 9,5 milhões.
Como o sistema do laboratório funciona conectado à internet, ele acabou virando uma valiosa fonte de dados da pandemia em tempo real. Esse banco de dados epidemiológico fez com que a empresa se valorizasse e ganhasse relevância ao longo do ano. Ela fechou 2020 com novos investidores, novos horizontes e um novo nome.
MAIS INVESTIMENTOS E UM NOVO PRODUTO PARA A HILAB
Dois fundos de investimentos, em uma rodada série B (quando a startup já está consolidada) de US$ 10 milhões, entraram no grupo de sócios: a Península Participações – fundada pelo empresário Abilio Diniz, que gere ativos da família – e a Endeavor Catalyst, que se juntam a Positivo Tecnologia, Monashees e Qualcomm Ventures.
Em 2020, a healthtech teve faturamento de R$ 200 milhões, dobrou o número de funcionários e teve crescimento de 50 vezes no número de pacientes atendidos em relação a 2019. Para concluir o ano, passou por uma reformulação de marca e mudou o nome para Hilab.
Ainda teve tempo para anunciar, em novembro, uma novidade, o Hilab Molecular. Trata-se de um dispositivo portátil que aumenta a capacidade de realização de exames por meio da biologia molecular, ramo que estuda o corpo humano com base no DNA e no RNA.
São métodos pouco invasivos, como amostra de saliva e swab nasal (aquele cotonete comprido). O resultado sai em apenas uma hora, garante a empresa.
O formato pouco invasivo do teste, aliás, é uma marca da Hilab. Marcus explica o procedimento: “É sem seringa, praticamente indolor. Primeiro, um profissional de saúde treinado faz um pequeno furo na ponta do dedo do paciente para coletar algumas gotas de sangue”, diz.
“Após a coleta, ele coloca a amostra em contato com os reagentes em uma pequena cápsula, que é depositada no dispositivo, que cabe na palma da mão. O dispositivo, então, cria uma ‘versão digital’ da amostra, que é transmitida instantaneamente via internet para a equipe de biomédicos em um laboratório físico localizado em Curitiba”, continua.
“Lá, os especialistas têm o auxílio de algoritmos de Inteligência Artificial próprios.” Em alguns minutos, eles emitem o laudo, que chega ao paciente via SMS ou e-mail. “Em 2020, o Hilab realizou mais de 2 milhões de exames”, diz o CEO.
Atualmente, o laboratório portátil realiza 20 exames, como HIV, hepatite, dengue e zika. A ideia é ampliar esse leque para 100 testes. “Nosso propósito está baseado nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, que explica a necessidade de eliminar doenças contagiosas”, conta Marcus.
DOIS ENGENHEIROS DA COMPUTAÇÃO NA SAÚDE
Pelo discurso pode não parecer, mas Marcus Figueredo chegou à área da saúde meio que por acaso. Em 2004, ele e Sérgio Rogal, atualmente CTO da Hilab, eram estudantes de Engenharia da Computação na PUCPR.
“Tivemos a oportunidade de desenvolver um trabalho no laboratório da faculdade ligado à telemedicina”, lembra. A dupla viu aí a chance de criar um projeto tecnológico, um software de monitoramento para médicos acompanharem pacientes a distância.
“Apostar em tecnologia em um setor tão tradicional foi um obstáculo, inclusive porque éramos estudantes”, lembra o CEO.
“Ficamos dois anos sem vender nenhum produto. Quando fizemos a primeira venda a um hospital, desenvolvemos outros aparelhos médicos e ganhamos espaço.”
Em 2009, eles criaram um oxímetro de pulso (equipamento que mede quanto oxigênio o sangue está transportando) que foi exportado para 15 países.
Hoje, o carro-chefe da empresa é o Hilab, “o menor laboratório do mundo”, ou “teste laboratorial remoto”, como diz Marcus. Se em 2017, ao ser lançado, ele estava apenas dentro de farmácias, três anos depois, em meio à pandemia, a realidade era outra.
“Em 2020 fizemos exames nos lugares mais diversos, desde a favela da Rocinha, em uma aldeia kayapó no meio da Amazônia onde não tem internet, em presídios, hospitais públicos, clínicas privadas e na Avenida Paulista. O maior aprendizado de fazer exames nessa variedade de lugares é que os exames são precisos em todos eles”, conta, empolgado.
O próximo passo, além de expandir o leque de exames, é trabalhar na internacionalização da empresa. Um processo que, afirma Marcus, já está em andamento.
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