Neste exato minuto, enquanto milhões debatem a forma de lidar com os millennials, o planeta envelhece. Os números não mentem, o planeta está se tornando cada dia mais prateado. No Brasil, isso não é diferente. Já temos mais avós do que netos. Isso significa que já temos mais pessoas com mais de 60 anos do que crianças com até cinco anos de idade no país.
São mais de 30 milhões de brasileiros chegando à maturidade e tomando um susto: com saúde e dinheiro no bolso, estão mais ativos do que nunca! É só olhar para os lados. Os maduros de hoje estão pelas ruas, passeando, trabalhando, casando de novo, consumindo, enfim: aproveitando a vida. A imagem da bengala, do cabelo preso ao coque, da pessoa reclusa em casa esperando a hora da morte já não faz mais sentido.
É mais fácil encontrar um 60+ na academia do que na cadeira de balanço.
Eles não são mais os mesmos e se torna urgente, para o mercado e toda a sociedade, o despertar de um novo olhar sobre a geração prateada. Para mergulhar nessa nova dinâmica demográfica, fomos à campo e o resultado é o estudo TSUNAMI60+: pesquisa inédita, realizada pelo Hype60+ e Pipe.Social, sobre o que chamamos de Economia Prateada e Raio-X sobre os maduros no Brasil.
O projeto contou com duas fases: na primeira, um mapeamento comportamental e econômico do segmento 60+ com tendências mundiais e, na segunda fase, uma pesquisa quantitativa e qualitativa com abordagem etnográfica realizada entre brasileiros prateados (acima de 55 anos) nas cinco regiões do país. No total, falamos com 2 330 maduros de todas as classes sociais, explorando temas como trabalho, saúde, família, amigos, sexualidade e finanças.
Foram mais de dez meses de trabalho, uma equipe que somou quase 100 pessoas e reflexões profundas sobre o futuro, que nos fez perder o sono muitas vezes. A longevidade impacta não somente nossas vidas, mas também os negócios. Os maduros estão criando uma nova economia, como mostra a definição do Oxford Economics:
A Economia Prateada é a soma de todas as atividades econômicas associadas às necessidades das pessoas com mais de 50 anos e os produtos e serviços que elas consomem ou virão a consumir.
A Economia Prateada já é a terceira maior atividade econômica no mundo e no Brasil, representando 20% do consumo nacional. Indo na contramão do imaginário coletivo de uma maturidade dependente e sem recursos financeiros, os dados surpreendem: 86% dos brasileiros com mais de 55 anos afirmam ter renda própria; entre os com 75 anos ou mais, esse índice é de 93%.
E mais, não só de aposentadoria vivem: as principais fontes de renda na faixa etária de 55 anos a 64 anos, são o trabalho profissional (49%), a aposentadoria (39%), os rendimentos de aluguéis (6%), as aplicações financeiras (3%) e o plano de previdência privada (2%). Entre os com mais de 65 anos, as porcentagens são 22%, 69%, 3%, 2% e 4%, respectivamente.
Seis em cada dez dos brasileiros 55+ têm uma renda individual que representa pelo menos 50% da renda bruta familiar.
Na prática, eles são responsáveis pela maior fatia da renda da família e da gestão financeira do lar. E, apesar de precisarem e desejarem continuar trabalhando, relatam grande preconceito no mercado de trabalho. Entre os entrevistados com mais de 55 anos, 24% afirmam que a falta de espaço no mercado de trabalho é a segunda maior perda que vem com a idade, atrás apenas da perda física. Enxergam, por outro lado, os novos formatos de trabalho como uma oportunidade para continuar na ativa por menos horas, conciliar trabalho com lazer sem impactar os sonhos da aposentadoria e ter uma renda necessária ao planejamento financeiro para a longevidade.
O trabalho voluntário também ganha espaço na rotina: 23% afirmam realizar alguma atividade voluntária semanal. Entre os 75+, 12% afirmam que esse trabalho é diário; 34% desejam, no futuro, se dedicar a trabalhos voluntários. Iniciativas como a Maturijobs, Trampolim60+ e Reinvenção do Trabalho 60+ se destacam ajudando os maduros a enxergar novas possibilidades de atuação.
A longevidade é uma das grandes conquistas da humanidade e chegou a hora de revermos nossos conceitos sobre essa fase, que em breve será a maior de nossas vidas.
Estudiosos afirmam que já está entre nós a pessoa que vai viver mais de 200 anos. Precisamos nos preparar para uma vida com cada vez mais tempo e para consumidores cada vez mais maduros. O futuro é velho!
Layla Vallias é cofundadora do Hype60+, núcleo de inteligência de marketing especializado no consumidor sênior. Foi Diretora do Aging 2.0 São Paulo, organização de apoio a empreendedores com soluções para o envelhecimento em mais de 20 países. Mercadóloga de formação, com especialização em marketing digital pela Universidade de Nova York, trabalhou com desenvolvimento de produto na Endeavor Brasil.