“Existe uma frase famosa de Einstein que diz: ‘É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito’.” Esta é a resposta de Viviane Sedola, a maior liderança feminina de cannabis no Brasil, ao ser questionada sobre como é possível acabar com o preconceito com a planta.
A startup Dr. Cannabis, fundada por Viviane em 2018, é pioneira em fornecer dados sobre cannabis medicinal legal da América Latina. Além de facilitar o acesso a informações relevantes e cientificamente comprovadas, a plataforma faz a ponte entre médicos e pacientes, ajudando quem precisa a acessar tratamentos efetivos de forma segura.
Hoje, ela conta com uma comunidade de mais de 3 mil médicos e 30 mil pacientes que se conectam, prescrevem e podem comprar produtos à base de cannabis.
O estalo para entrar nesse universo veio no final de 2017, quando a empreendedora descobriu que havia no Brasil uma regulação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que permitia o acesso legal à cannabis medicinal, mas que menos de mil pessoas haviam usado esse benefício. E foi buscar as razões.
“Descobri que, por falta de informação, médicos deixavam de prescrever e pacientes deixavam de se tratar, por mais que fossem refratários aos medicamentos tradicionais”, conta ela.
“Entendi que havia em torno da cannabis medicinal um problema de comunicação muito maior do que científico.”
Ela aproveitou suas competências como relações públicas e a atuação de mais de 12 anos no mercado digital e decidiu mudar esse cenário.
“São oito, nove décadas de publicidade negativa em torno da planta. Essa realidade começa a se reverter com rapidez e com evidência científica da melhor qualidade. Os primeiros estudos datam da década de 60 – ou seja, já estamos avançados em produzir informação real e de qualidade, agora o trabalho é disseminar esse conteúdo.”
Como o lema é “A informação é o melhor remédio”, a Dr. Cannabis hoje funciona como uma comunidade colaborativa, além de oferecer cursos e congressos, como a segunda edição do CNABIS, que será realizado online entre 3 e 5 de agosto.
Totalmente gratuito, o evento virtual reunirá importantes nomes da pesquisa e da prática clínica do Brasil e do mundo que abordarão temas como a história da cannabis, a farmacologia de seus derivados e os efeitos terapêuticos da planta e seu papel no esporte, em tratamentos de patologias e na saúde, entre vários outros.
UMA INJEÇÃO DE DINHEIRO NA ECONOMIA
O uso da planta de forma medicinal e seus benefícios estão na agenda de muitos países, empresas e até do mercado financeiro.
Uma pesquisa intitulada “Conexão Global: cannabis, um mercado alternativo”, desenvolvida pela XP Investimentos, mostra que só nos Estados Unidos o mercado saltará dos atuais US$ 25 bilhões para US$ 72 bilhões em 2028.
No Brasil, de acordo com um relatório da consultoria New Frontier Data, feito em parceria com a GreenHub, aceleradora brasileira de startups de cannabis, a legalização da erva para fim medicinal por parte do governo resultaria em um total de R$ 959 mil com a venda legal de medicamentos canábicos nos 36 primeiros meses.
Se incluído o uso também no tratamento de dor crônica, o número atingiria por volta de 3,4 milhões de pacientes ao ano, movimentando o correspondente a R$ 4,7 bilhões na economia do país.
UM DESAFIO: A QUANTIDADE DE MÉDICOS PRESCRITORES
“A cannabis tem sido amplamente pesquisada e utilizada como uma importante ferramenta terapêutica para uma variedade de patologias e sintomas, como Alzheimer, Parkinson, câncer, epilepsia, doenças neurodegenerativas, depressão, ansiedade e dor”, enumera Viviane.
“Desde 2015, os médicos brasileiros podem prescrever e os pacientes podem se tratar legalmente com cannabis no Brasil, porém ainda temos um caminho a trilhar: são mais de 4 milhões de pacientes que podem se beneficiar do uso medicinal da cannabis, no entanto apenas 0,2% dos médicos ativos no país prescrevem os derivados da planta, como CBD e THC”, revela a empreendedora.
Mais do que prestar um serviço inovador, a Dr. Cannabis faz história ao quebrar o tabu envolvendo o uso da cannabis medicinal entre pacientes e médicos.
E, como prova de que está no caminho certo, já conseguiu duas rodadas bem-sucedidas de investimentos. A primeira em 2018 levantou R$ 750 mil para o desenvolvimento inicial do projeto. No final de 2020, fecharam 100% da meta com R$ 2 milhões captados para aprimorar a plataforma.
Articulada, Viviane está ativamente engajada em usar sua influência para trabalhar com os principais veículos de comunicação nacionais e contatos políticos para reduzir o atrito e a burocracia no uso medicinal da erva no Brasil e América Latina.
INSPIRAÇÃO: COMO EXPLICAR PARA UMA CRIANÇA DE 10 ANOS
A inspiração para mudar o cenário da maconha por aqui vem de todos os lados – até mesmo na forma de explicar para seu filho o seu trabalho.
“Na época do lançamento da Dr. Cannabis ele estava com 10 anos e me fez perguntas, como ‘mas as crianças precisam fumar?’, ‘é legal, mãe?’, ‘e como elas se sentem quando usam?’”, conta.
“Os questionamentos foram e ainda são muito úteis para a criação de conteúdo da empresa – pois, se eu consigo fazer uma criança entender esse conceito, vai ser mais fácil replicar para adultos, médicos e pacientes”, reflete.
O currículo canábico de Viviane já conta com vários momentos importantes. Ela já falou sobre o tema em diversos estados brasileiros, nos principais eventos de cannabis do Brasil, no Panamá e em Israel, apresentando o mercado de cannabis brasileiro.
Também participou como palestrante convidada de audiências públicas sobre cannabis medicinal no Senado Federal, Câmara dos Deputados e AssemblEia Legislativa de São Paulo.
Mas um de seus maiores orgulhos nesta jornada foi a homenagem da revista High Times como uma das 50 mulheres mais influentes do mercado de cannabis no mundo.
Além de fomentar o debate, Viviane também é uma paciente. “As gotinhas do óleo de CBD fazem parte de minha rotina e ajudam a controlar a ansiedade, dormir melhor E lidar com dores musculares de tensão.”
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