• “O futuro da medicina reprodutiva é indissociável dos avanços da criogenia”, diz diretor médico da CryoForLife

    Daniel Zylbersztejn, especialista em reprodução humana e diretor médico da CryoForLife
    Jose Renato Junior | 8 dez 2021

    Há poucos anos, a decisão de ser mãe estava quase sempre balizada pelo tempo. O relógio biológico era um fantasma para a mulher e, quanto mais o tempo passava, mais difícil levar essa decisão a cabo.

    Aos 30 anos, a probabilidade de uma mulher saudável engravidar é de 20% todos os meses. Aos 40 anos, a chance cai para 5%.

    Com o avanço da criogenia, isso promete mudar cada vez mais. Ciência que ajuda a manter embriões, óvulos e sêmen, ela também preserva tecido reprodutivo, células-tronco e cordão umbilical vivos e íntegros por meio de processos de congelamento. 

    A técnica consiste no uso de nitrogênio líquido para esse congelamento. Sabe-se que o metabolismo de uma célula, ou de qualquer tecido vivo, é interrompido quando se atinge a temperatura de -133°C. 

    O nitrogênio em forma líquida é usado no processo porque permanece sempre em -196°C, o que garante importante margem de preservação. 

    O setor está em alta. De acordo com o 13° relatório SisEmbrio (Sistema Nacional de Produção de Embriões), da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o número de congelamentos de embriões vem crescendo.

    Produzido com dados de 2019, ele mostra que foram criopreservados no país 99.112 embriões no país naquele ano, 11% a mais do que no ano anterior. 

    Os dados mostram ainda que em 2019 foram realizados 43.956 ciclos de fertilização in vitro no Brasil, o que representou um crescimento de mais de 800 ciclos em relação ao ano anterior. 

    Para que esses ciclos funcionem, as clínicas de reprodução assistida precisam realizar grandes investimentos – e, assim, garantir que o sonho de tantos brasileiros de ter filhos não seja colocado em risco por possíveis oscilações de temperatura no processo de criopreservação. 

    Uma questão que não é só física, é de gestão também. Segundo Daniel Zylbersztejn, médico especialista em reprodução humana, os desafios técnicos para armazenar e administrar uma grande quantidade de embriões e gametas por um longo período são vários.  

    INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA A CRIOPRESERVAÇÃO

    Fabio Martins, o CEO, eChristine Allen, a COO da healthtech

    Foi com este olhar logístico que Fabio Martins, executivo com mais de 25 anos de experiência em mercados B2B, onde se especializou nas áreas de inovação, distribuição e lançamento de produtos no segmento farmacêutico e de cadeia de frio, e Daniel Zylbersztejn resolveram criar a CryoForLife.

    Essa startup é dedicada a realizar toda a cadeia logística dos materiais biológicos criopreservados. 

    “Nosso processo é totalmente automatizado e utilizamos dispositivos dotados de inteligência artificial para regulação de todas as medidas de segurança que mantenham o material criopreservado na temperatura adequada e com o menor risco possível de perda de material biológico”, explica Daniel, que é diretor médico da CryoForLife.

    Para contribuir e trazer ainda mais profissionalismo ao processo, ele e Fabio Martins convidaram a especialista em criopreservação de gametas e embriões Christine Allen para fazer parte da equipe. Atualmente, ela é a COO da healthtech.

    A criopreservação de células e tecidos permite ao ser humano um certo controle do seu desejo reprodutivo, em especial nos casos em que o adiamento da paternidade ocorre por causa do aparecimento de alguma doença, por exemplo, ou até mesmo por uma questão profissional. 

    “O uso do material biológico criopreservado anos depois devolve ao paciente um potencial reprodutivo inerente à idade do congelamento, permitindo que um sonho interrompido ou adiado possa se tornar realidade”, diz o diretor médico. 

    “O futuro da medicina reprodutiva é indissociável dos avanços da criogenia.”

    UM PASSO A PASSO DE UM PROCESSO CRIOGÊNICO

    Ainda segundo Daniel Zylbersztejn, quando a CryoForLife é solicitada para a busca de material, as embriologistas analisam junto ao material a ser coletado eventuais necessidades especiais de transporte e de tanques específicos para doenças infecciosas no momento do armazenamento definitivo. 

    Entre as sorologias analisadas estão hepatite B, hepatite C, sífilis, HTLV I/II, HIV I/II, zika vírus e coronavírus.

    “Em seguida, a CryoForLife prepara os tanques de transporte com nitrogênio líquido para buscar o material”, explica o médico. 

    “O processo é liderado por uma de nossas embriologistas, que vai até o local para realizar a coleta. Ao chegar à CryoForLife, todo o material é transferido do tanque de transporte para o tanque definitivo, com identificação segura de cada amostra”, detalha. 

    É importante saber que as amostras criopreservadas ficam armazenadas em dois reservatórios diferentes, evitando perda total desses elementos caso haja algum problema com um dos tanques. 

    O monitoramento online é realizado por meio de um sistema em tempo real e com a ajuda de inteligência artificial. 

    “São avaliados o nível de nitrogênio, peso, temperatura na parte inferior e superior do tanque, nível de oxigênio, umidade e temperatura da sala e outras funções”, esclarece Daniel Zylbersztejn. 

    No final do processo, assim que a clínica faz a solicitação, a startup retorna com as amostras, que são enviadas por meio dos tanques de transporte. 

    “As identificações no recebimento são realizadas tanto pela clínica, quanto pela embriologista da CryoForLife.”

    TOTAL SEGURANÇA É ATIVO OFERECIDO PELA EMPRESA

    O médico conta que a healthtech tem tido uma excelente recepção por parte das clínicas de reprodução humana, pois o setor identificou na empresa uma solução importante e definitiva para armazenamento do seu material criopreservado antigo e futuro. 

    “O crescimento constante desse material e a exigência de uma manutenção com mais segurança e mais qualidade tornam a atividade cada vez mais complexa e cara financeiramente para as clínicas”, argumenta. 

    E o diferencial da startup é que a empresa se responsabiliza por toda a complexidade necessária para as clínicas de reprodução humana manterem seu material criopreservado, oferecendo muito mais segurança pela tecnologia embarcada e eficiência pela logística existente.

    “A CryoForLife poderá ser a responsável pelas cobranças dos valores mensais dos pacientes, desonerando as clínicas do controle de pagamentos das amostras”, afirma o diretor médico. 

    “Dessa forma, tiramos destes estabelecimentos o alto custo que envolve a manutenção dos equipamentos, a logística e o monitoramento de todo o material criopreservado.”

    Num futuro não tão distante, a CryoForLife pretende crescer dentro dos principais centros regionais do Brasil e da América Latina. 

    “O mercado de criogenia movimenta cerca de 70 milhões de dólares nos Estados Unidos e 50 milhões de euros na Europa”, diz o sócio da startup.

    “Aqui no Brasil, são cerca de 200 milhões de reais. Temos potencial de crescimento de 100% nos próximos cinco anos. Em nossa matriz em Alphaville [Grande São Paulo], estamos com tudo preparado para um crescimento de 300% de nossa capacidade.”

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