A medicina nuclear é uma especialidade que gera dúvidas no público leigo. A falta de conhecimento sobre como é utilizada, sobre qual a ação efetiva e possíveis reações aos procedimentos favorece a disseminação de informações incorretas. Desta forma, surgem mitos e suposições que não condizem com a realidade e que podem, muitas vezes, atrasar o diagnóstico, atrapalhar ou até interromper tratamentos.
Talvez a melhor definição de medicina nuclear seja: uma especialidade médica que, utilizando métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos, emprega materiais radioativos com finalidade diagnóstica e terapêutica.
A medicina nuclear usa quantidades mínimas de substâncias radioativas (radiofármacos) como ferramenta para acessar o funcionamento dos órgãos e tecidos vivos, produzindo imagens, realizando diagnósticos e viabilizando tratamentos.
Para evitar que a desinformação prejudique o acesso de mais pessoas à medicina nuclear e seus benefícios, listo, a seguir, algumas questões importantes. Creio que essas informações possam desmistificar algumas impressões equivocadas sobre a especialidade:
É importante salientar que medicina nuclear e radiologia são especialidades distintas, apesar da semelhança de utilizar a radiação para obter imagens e de serem complementares.
Enquanto a radiologia trabalha com imagens anatômicas e estáticas, contudo, na medicina nuclear o paciente recebe uma substância radioativa (chamados radiotraçadores ou radiofármacos) e passa por máquinas que detectam essa radiação – o que permite uma análise das alterações funcionais das estruturas internas do corpo.
Outra dúvida comum que chega aos consultórios é se existe algum risco no uso de substâncias radioativas em procedimentos. A quantidade de radiação envolvida na medicina nuclear é mínima e a injeção aplicada raramente provoca qualquer efeito colateral ou adverso.
Como dito anteriormente, a medicina nuclear utiliza baixas dosagens de substâncias radioativas. Além disso, as poucas quantidades ingeridas são expelidas pelo corpo pouco tempo após os procedimentos. Vale lembrar que o organismo é capaz de responder a eventuais danos por vários mecanismos de defesa, reparo ou eliminação.
A radiação pode tornar-se um problema quando administrada de forma intensa e em doses altas, o que não ocorre nos exames nucleares. Não há dados que confirmem a hipótese de que as doses de radiação dos radiofármacos de diagnóstico causem danos a quaisquer órgãos humanos.
Pessoas alérgicas a iodo podem se submeter à chamada radioiodoterapia – abordagem utilizada para tratar o câncer de tireoide depois do procedimento cirúrgico –, que consiste na administração, por via oral, do iodo-131, que é um elemento radioativo.
Seu preparo inclui uma dieta pobre em iodo por aproximadamente duas semanas antes da realização do procedimento e o aumento de um hormônio chamado TSH. O iodo radioativo encontra as células cancerígenas da tireoide que eventualmente escaparam do tratamento cirúrgico.
A tireoide e o câncer de tireoide captam o iodo e, assim, o iodo-131 leva radiação diretamente às células tumorais, causando sua destruição. A quantidade de iodeto (íon de iodo também encontrado em frutos do mar e no sal de cozinha) é mínima no composto de radioiodoterapia, eliminando quase todas as restrições.
Uma das únicas exceções em relação à aptidão de todas as pessoas para realizar exames de medicina nuclear ocorre entre gestantes e/ou lactantes. Os procedimentos não são recomendados também para mulheres com suspeita de gravidez. Pode até haver liberação para exames em casos esporádicos, em que o médico responsável pelo acompanhamento avalia a relação entre risco e benefício.
No caso das lactantes, há possibilidade de realização de exames desde que o leite produzido seja descartado até que o radiofármaco seja totalmente eliminado do corpo. Este tempo varia de acordo com o procedimento realizado, uma vez que cada radiofármaco tem uma meia-vida específica.
Para que se possa mitigar ou até acabar com esses e outros mitos acerca da medicina nuclear é importante que o paciente seja bem orientado pelo médico que o acompanha.
O ideal é que o paciente tenha consciência de que a medicina nuclear é segura e que seus procedimentos podem ser até menos arriscados do que tomar um comprimido para dor de cabeça.
*Adelina Sanches é diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).