O câncer de pulmão é, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o terceiro tipo da enfermidade mais frequente entre os homens e o quarto entre as mulheres no país.
Todos os anos, 30 mil novos brasileiros são diagnosticados com câncer de pulmão. “O melhor tratamento para o paciente que é diagnosticado com a doença em estágio inicial é a cirurgia”, explica Maurício Campos Cusmanich, cirurgião oncológico do Hospital de Amor, em Barretos, no interior de São Paulo.
Formas mais eficientes de cirurgia são, portanto, desejáveis – caso da cirurgia robótica, em que o profissional da saúde tem a ajuda de um robô na condução do procedimento.
“O processo feito com a ajuda de um robô é mais moderno, menos invasivo, o que leva a um menor tempo de internação”, diz o médico.
Cada vez mais inserida no cotidiano da saúde, esse tipo de cirurgia vem sendo oferecida para o tratamento de câncer de pulmão desde agosto no Hospital de Amor – sem custo para o paciente.
MELHOR PARA O PACIENTE E PARA O CIRURGIÃO
A cirurgia robótica é totalmente comandada pelo cirurgião, que fica posicionado em um console dentro da sala de cirurgia.
“O profissional não está em contato com o paciente, mas sempre fica um auxiliar para qualquer eventualidade”, diz Wilson Chubassi de Aveiro, cirurgião oncológico e vice-coordenador do Departamento de Cirurgia Torácica do Hospital de Amor.
Além disso, a visão do médico é em 3D, o que, de acordo com os cirurgiões, proporciona mais precisão e maior noção de profundidade.
As pinças do robô, que funcionam como seus braços, têm uma amplitude e profundidade de movimento maior, e “mimetizam” a mão do cirurgião. “A gente comenta que é como se tivesse uma miniatura do profissional”, brinca o médico.
As vantagens da cirurgia robótica são inúmeras para o paciente e para o médico. Como incisões menores, há menos sangramento, o procedimento é mais rápido e o tempo de internação, menor.
“Com a cirurgia robótica, os pacientes apresentam menos dores, os índices de infecção são reduzidos, além de menores chances de complicações pós-cirurgia”, ele enumera.
“Comparada à cirurgia por vídeo, a robótica é também muito melhor para o cirurgião: temos mais precisão de movimentos e maior ergonomia. Saímos do procedimento muito menos cansados”, afirma Wilson.
“E, no caso específico do câncer de pulmão, conseguimos ter maior precisão no procedimento, além de realizarmos uma dissecção de linfonodos mais completa.”
Os linfonodos localizados no pulmão são pequenas estruturas que fazem a drenagem linfática do órgão. “E quando temos a chance aumentada de dissecá-los, reduzimos a probabilidade de metástase”, complementa Maurício.
“Afinal, com a ajuda de estudos, conseguimos avaliar por estes linfonodos o estágio do câncer e se o paciente irá precisar de algum tratamento depois da cirurgia.”
PROCEDIMENTO TOTALMENTE GRATUITO
No Hospital de Amor, a cirurgia robótica para câncer de pulmão passou a ser oferecida de forma gratuita, através do SUS (Sistema Único de Saúde).
Após uma triagem feita por meio dos exames que chegam de pacientes de qualquer estado do país, a pessoa deve ir até o hospital e realizar novos testes para saber se está em condições para passar pela cirurgia. Se estiver tudo certo, é só marcar a data para o procedimento.
Parte da cirurgia robótica torácica realizada no Hospital de Amor é financiada pela própria instituição.
O SUS paga ao hospital um valor fixo e, geralmente, este tipo de procedimento tem um custo maior do que o acordado.
Ainda assim, entre os meses de agosto e outubro, foram realizadas cerca de 12 cirurgias robóticas torácicas. “Até o começo do ano que vem, com certeza teremos números bastante surpreendentes”, avaliam os cirurgiões.
De acordo com os profissionais do Hospital de Amor, a tendência é que, em breve, os pacientes tenham ainda mais acesso à cirurgia robótica, já que muitos profissionais estão se capacitando e outras tecnologias já estão aparecendo.
“Já em um futuro mais distante, acreditamos que a cirurgia poderá ser feita remotamente”, diz Maurício.
“O especialista não precisará estar presente na cidade, estado ou país para operar o robô. Mas é importante salientar que sempre existirá uma equipe para ajustar qualquer complicação que possa vir a acontecer durante o procedimento”, afirma.
Por ora, resta aos pacientes do SUS esperar que a cirurgia robótica seja introduzida em outros hospitais, aumentando assim o acesso a mais brasileiros que necessitem do processo.