Quem nunca esqueceu de tomar um medicamento na hora certa que atire a primeira cápsula. Imagine a quantidade de erros no tratamento que cometem as pessoas que possuem várias prescrições?
Foi pensando exatamente neste perfil que surgiu a Far.me, startup que tem como intuito ajudar pacientes crônicos e idosos na gestão da farmacinha do dia a dia.
“A Far.me veio para resolver essa dor. A outra solução é garantir para os familiares um controle maior desta agenda de medicamentos, melhorando a adesão do paciente”, explica Leonardo Byrro, CEO da Viveo, empresa que recentemente adquiriu uma parte da healhtech.
Funciona assim: o cliente recebe em casa uma caixa contendo todos os medicamentos que precisa. Nesta box também estão os horários corretos de cada tratamento.
E não para por aí. “A pessoa passa a ter acesso [por meio de assinatura mensal] a um serviço de suporte em que pode ligar a qualquer momento para farmacêuticos e enfermeiros e tirar dúvidas sobre reações, por exemplo”, diz Byrro.
O serviço, afirma o CEO, também está disponível para responder indagações como o que fazer se esquecer de tomar determinado medicamento.
“Isto é uma das coisas mais bem avaliadas no nosso serviço”, conta Byrro.
Oferecendo todos os medicamentos para o paciente, a startup ainda evita o trabalho de pesquisa de preços e consegue reduzir o custo, na soma de todos, em até 40%.
ERRAR A MEDICAÇÃO: UM PROBLEMA MUNDIAL
A startup começou em Belo Horizonte, onde as fundadoras Samilla Dornellas, Luciana Raid e Marina Dias moravam. As três farmacêuticas criaram a Far.me a partir de um projeto que desenvolveram na Universidade Federal de Minas Gerais.
Nesse projeto, elas identificaram uma melhora clínica significativa em uma paciente apenas porque ela passou a tomar o medicamento em doses corretas e nos horários certos.
Ter problemas com a medicação é um problema mundial. Um estudo conduzido na Universidade da Califórnia mostrou que apenas nos Estados Unidos, em 2016, US$ 42 bilhões foram gastos devido a erros em tratamentos.
A própria Organização Mundial da Saúde propôs, em 2018, o desafio global “Medication Without Harm” (ou medicação sem danos). O objetivo é reduzir erros que têm impactos na saúde das pessoas e na saúde pública.
Ao verificar o potencial da Far.me, um ano atrás, a Viveo resolveu entrar em contato para oferecer uma espécie de fusão.
Para entender melhor a negociação, a Viveo vem construindo nos últimos anos o que chama de “ecossistema completo em produtos e serviços para saúde”, com portfólio mais amplo de materiais descartáveis para diversos canais de atendimento. “Nosso foco é mais hospitais, clínicas, laboratórios”, fala o CEO.
Agora, a empresa busca aumentar os serviços para a área de experiência de compra, ajudando a reduzir custo e melhorar o acesso a produtos e soluções de saúde que sofrem com ineficiência e custos altos – foi assim que chegaram até a Far.me.
MODELO DE ASSINATURA DA FAR.ME TEM MIL PACIENTES
Atualmente, 37% da companhia é de domínio da Viveo, com opção de aumentar essa porcentagem no futuro. “Fizemos a expansão da Far.me em São Paulo. Esse modelo de assinatura está atingindo, mais ou menos, 1000 pacientes recorrentes”, afirma o CEO.
“Temos outros modelos, que atendem em momentos específicos da vida. Por exemplo, se a pessoa quer comprar um medicamento, mas não quer assinar algo, nós também vendemos desta forma.”
Ainda de acordo com Byrro, a solução não é boa apenas para o paciente, mas também para hospitais, planos de saúde e indústria farmacêutica.
“A gente quer provar que, hoje, um dos grandes custos para saúde ocorre quando o paciente não adere de forma correta ao tratamento e volta ao hospital, ou tem outro problema que impacta o custo do plano”, afirma.
Por isso, a Far.me já está em um processo de reuniões com este setor para oferecer os seus serviços.
Já a indústria farmacêutica, que é um dos grandes parceiros da Viveo, também pode ganhar bastante com a healthtech.
“Quando a gente chega mais perto do paciente, ao aprender mais sobre ele num determinado tratamento, conseguimos dividir parte desta informação, dentro daquilo que é permitido, com a indústria farmacêutica e criar um canal de informação”, diz Byrro.
“Educar o paciente e montar uma plataforma em que ele possa buscar tudo o que precisa para um tratamento melhor: queremos ser esse elo.”.
ECOSSISTEMA VEM CRESCENDO 30% AO ANO
O ecossistema de serviços de saúde Viveo nasceu a partir da Mafra, distribuidora de materiais descartáveis e medicamentos hospitalares.
Em 2016, a empresa passou por investimentos vindos da DNA Capital, com um plano de expandir os negócios, que era focado em hospitais.
“A ideia era transformar a Viveo em uma grande plataforma de produtos. O consumo de saúde, que era muito concentrado em hospitais e clínicas médicas, agora está se ampliando para casa, por exemplo”, diz.
“Queremos ter presença em todos esses pontos, levando um portfólio completo e muita qualidade.”
A dedicação, acredita Byrro, vem sendo reconhecida pelo mercado. Hoje, os clientes da companhia identificaram a capacidade da Viveo em atender muito mais canais de saúde.
“Era um movimento ousado de expansão, e a gente vem crescendo 30% ao ano”, comemora.
Quando o assunto são os próximos anos da Far.me, o CEO é categórico: criar um negócio que tenha uma relevância e escala em até cinco anos.
“Queremos, de fato, ser um dos players que ajudaram a transformar um pouco a forma como se consomem materiais e medicamentos com acesso mais eficiente a mais barato para o paciente.”