Um estudo da Oracle e Workplace Intelligence, realizado em 2020 com mais de 12 mil pessoas em 11 países, apontou que o uso da tecnologia tem sido fundamental para lidar com questões relacionadas à saúde mental dentro das organizações.
A pesquisa revela que 87% dos brasileiros participantes afirmaram que soluções de inteligência artificial (IA) são imprescindíveis para o monitoramento do seu bem-estar mental no ambiente de trabalho.
Além disso, 64% preferem interagir sobre assuntos como estresse e ansiedade com um robô em vez de tratar com seus superiores.
Foi pensando nisso que a Hisnek desenvolveu o aplicativo IVI, que utiliza a IA com foco em prevenção, para oferecer soluções antes dos transtornos emocionais se agravarem.
Em entrevista para FUTURE HEALTH, a criadora do app, Maria Carolina Dassie Afonso, explica como surgiu a ideia – e a demanda – por um aplicativo que ajudasse a cuidar da saúde mental das pessoas, antes até do tema ganhar mais detaque com a pandemia:
MARIA CAROLINA: Minha trajetória é toda no mercado financeiro. Peguei uma época difícil. Na crise de 2008, trabalhava na mesa de operações do Credit Suisse e foi uma fase muito dura. Comecei a me questionar sobre o porquê de estar ali, quem era o beneficiário do meu trabalho, por que eu trabalhava tantas horas e adoecia de tanto trabalhar. Foi quando comecei a pensar em trabalhar com algo em que pudesse enxergar quem eu estava favorecendo. Fui, então, fazer um MBA na IE Business School, de Madrid (Espanha). Quando voltei, ainda trabalhei no mercado só para pagar minhas contas, mas comecei a empreender com uma amiga vendendo comidas congeladas saudáveis. Em 2014, pedi demissão e fundei a Hisnek em 2014, focada em lanches saudáveis e rápidos. Foi quando finalmente enxerguei mais propósito em trabalhar.
MC: Quando fundei a Hisnek, comecei a atender corporações oferecendo comidas saudáveis.
No final de 2018, percebemos a necessidade de desenvolver um produto que fosse além da saúde do corpo: foi quando a IVI nasceu, como uma assistente virtual para saúde emocional e bem-estar.
Ela nasceu porque nosso cliente, na maioria dos casos, é o RH. Estreitando relacionamentos, percebemos que, independentemente do tamanho da empresa contratante, o RH tinha dificuldades em promover a prevenção de doenças mentais. Quando eles ficavam sabendo, o colaborador já estava em uma situação de pedir afastamento.
Pesquisas na área apontam que há muito tabu sobre saúde mental, que o colaborador tem medo de pedir ajuda e vai mascarando ao máximo. Isso faz com que a corporação não seja capaz de conter ou de prevenir os casos.
Então, entendemos que se desenvolvêssemos uma ferramenta tecnológica que oferecesse aos colaboradores de nossos clientes a tranquilidade do anonimato, ela poderia ajudar a quebrar o tabu sobre saúde mental.
MC: Tínhamos um mindset: as pessoas tinham que poder se cuidar antes de adoecer. No Brasil, há 5,7 psiquiatras para cada 100 habitantes. Logo, se deixamos os nossos problemas de saúde mental chegarem à fase crônica, fica mais custoso para todo mundo. A inteligência artificial foi uma maneira de garantir o anonimato para os usuários. Como muitos se sentiram mais confortáveis em falar com uma máquina, quebramos o silêncio sobre saúde mental e geramos escala.
A dor da saúde mental já estava por aqui antes da pandemia e de lá para cá se agravou. Em 2017, tivemos 165 mil pessoas afastadas pelo INSS por causa da saúde mental. E agora em 2020 foram 550 mil.
MC: A IVI está baseada em um algoritmo que é estruturado como um funil de saúde mental, embasado em protocolos clínicos com validação nacional e internacional.
Quando o usuário interage com a IVI, ela cruza as informações fornecidas com essa base de dados e identifica em que etapa do funil ele se encontra: verde, amarelo ou vermelho, sendo o primeiro mais leve, o segundo moderado e o terceiro mais sério.
Com base nisso, o aplicativo sabe o que sugerir seja para manutenção do bem-estar, no estágio verde, seja para despressurização, em estágios amarelo e vermelho. Essas práticas sugeridas também têm validação científica e com comprovação de resolutividade bem embasadas.
MC: Só conectamos o usuário com psicoterapeutas se ele estiver com alta indicação de depressão e ansiedade. Com quem está estável ou pouco vulnerável, a IVI dá conta do recado.
Usuários no estágio amarelo, por exemplo, recebem conteúdos baseados em três pilares: prática baseada na atenção plena, atividade baseada na terapia cognitiva-comportamental ou em psicoeducação. São os grandes três pilares que nos baseiam. O formato pode ser vídeo, áudio, texto, a depender da escolha do usuário.
A pessoa no vermelho tem dois caminhos. Quando a encaminhamos para psicoterapeuta, podemos customizar a indicação baseados no que a corporação já oferece, como planos de saúde, ou, se a empresa não oferece esse benefício, indicamos um parceiro.
MC: Cobramos da corporação de acordo com o número de pessoas que terão acesso à ferramenta. E nosso contato é sempre B2B. A Hisnek não entra em contato com o colaborador. Quando o usuário acessa a IVI, indica a corporação de que faz parte e informa o CPF para logar.
Atendemos, atualmente, 18 clientes, incluindo Avon, Roche, Pfizer, Rodobens, Cosan etc. – empresas de variados portes e de segmentos muito diversos. E já impactamos mais de 1,7 milhão de vidas.
MC: Temos um alto nível de satisfação, com mais de 30% dos usuários engajados, o que é alto quando se compara com outros apps de saúde. Outros aplicativos somente de terapia online, por exemplo, têm em torno de 5% a 7% de engajamento no máximo. Ao compreender melhor o estado de saúde mental dos colaboradores, a corporação é capaz de ajudar e ter bons resultados de prevenção. Baseados nas informações que os usuários fornecem, nossa área de produto, por meio de pesquisas e validações, mantém o app em constante mudança e aperfeiçoamento.
MC: Nosso algoritmo é totalmente desenvolvido em casa, pela nossa equipe, com a preocupação em entregar uma solução o mais personalizada possível. Fazendo desse jeito, vamos aprendendo como a IA se comporta conforme ela interage com os usuários e vamos monitorando e fazendo ajustes constantemente.
Assim, o algoritmo e a IA vão ficando mais parrudos, mais capazes de oferecer uma solução certeira para o perfil de um usuário específico conforme coleta mais e mais dados de perfis variados.
Nossa equipe tecnológica e de inteligência de dados utiliza um banco de dados chamado GRAPHOS, da Amazon, que nos ajudam a fazer uma seleção natural dos conteúdos, oferecendo a arquitetura necessária para que tudo funcione.
Há dois tipos de informações que coletamos periodicamente com os usuários que são a base da alimentação da IA: checamos se o usuário foi até o final do atendimento e acompanhamos scores de bem-estar dela para acompanhar seu progresso emocional. Todo dia, a IVI pergunta sobre as emoções do usuário; e de 28 em 28 dias, ela faz perguntas mais completas a fim de fazer um acompanhamento longitudinal.
MC: Atender melhor o usuário, sempre pensando em novas possibilidades para que a saúde mental seja mais acessível a todos. Uma maneira de fazer isso é compreender e disseminar a noção de que saúde mental pode ter significados diferentes para cada pessoa. Exemplo: uma pessoa que gosta de atividade física pode ter sua saúde mental baseada nesse aspecto da saúde física. Temos percebido um movimento de empresas trocando a terapia online por outras soluções porque estão desapontadas. Pretendemos oferecer soluções inteligentes e eficazes para essas questões.