Todo o ano, o Dezembro Laranja promove a conscientização sobre a prevenção do câncer de pele. Uma peculiaridade da doença é que a maioria dos casos está relacionada a hábitos dos portadores, e não tanto a uma predisposição a desenvolvê-la.
Renato Santos, cirurgião oncológico do Hospital Nove de Julho e coordenador do setor de Melanoma e Tumores Cutâneos da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), comenta:
“A campanha estimula as pessoas a entender que o câncer de pele tem, sim, alta mortalidade e morbidade. Estamos tratando de um câncer em que de 80% a 90% das vezes tem a ver com exposição ao sol.”
Mas é claro que há outros fatores envolvidos, como antecedentes familiares e a maior incidência em pessoas brancas do que em pessoas negras. “Apesar de ocorrer menos em populações com pele mais escura, o câncer ocorre, sim, na população negra, especialmente nas regiões palmares e plantares e nas mucosas”, explica Renato.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o câncer de pele responde por 33% de todos os diagnósticos da doença no Brasil, e o Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra, a cada ano, cerca de 185 mil novos casos. No mundo, ele corresponde a 30% de todos os tumores malignos e o tipo mais comum, o câncer da pele não melanoma, tem letalidade baixa, embora a incidência seja alta.
Os cânceres de pele mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares, responsáveis por 177 mil novos casos da doença por ano. Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer de pele e representa 8,4 mil novos casos anualmente.
“Há duas recomendações básicas para que o indivíduo procure um médico suspeitando de câncer de pele. A primeira é a ocorrência de uma lesão de pele que não desaparece em 4 semanas. A segunda é, se ele já tem uma lesão de pele que começa a se modificar, tanto em tamanho, cor, irregularidade em relação a pele vizinha ou se aparecem sintomas como prurido ou sangramento”, diz o cirurgião.
Vale dizer que o câncer de pele nunca é invisível, diferentemente de outros cânceres mais discretos ou “silenciosos”. Por haver partes do corpo difíceis de serem examinadas, como costas, região perineal ou couro cabeludo, é recomendada uma avaliação anual com especialista para um check-up preventivo. “Sintomas gerais de fraqueza ou anemia são mais comuns em fases avançadas do câncer de pele”, pontua Renato.
O diagnóstico do câncer de pele é feito, na maioria das vezes, por um dermatologista, que é o primeiro contato do paciente que identifica algo estranho em sua derme. Renato pontua que a abordagem ideal é envolver uma equipe multidisciplinar para oferecer o melhor tratamento.
“De modo geral, o dermatologista é o primeiro médico a diagnosticar e abordar o câncer de pele. Dermatologistas com habilidade em cirurgia conseguem tratar tumores menores. Se a doença avança, ele se associa a um cirurgião oncológico e/ou um oncologista clínico”, descreve Renato.
O tratamento, geralmente, consiste em duas etapas. A primeira busca a eliminação do câncer, que pode ser feita por um cirurgião plástico ou por um dermatologista apto, mas habitualmente é trabalho de um cirurgião oncológico. Depois de eliminado o câncer, um exame pós-operatório verifica se o entorno da pele afetada está intacto.
“A maioria dos cânceres de pele iniciais é tratada com cirurgias simples, não requerendo participação de cirurgião plástico – embora muitos deles estejam habilitados a fazer esse tratamento. A participação desse profissional se faz necessária para eventual remoção mais ampla do tumor, algo que requeira correção e reconstrução estética e funcional. Dependendo da localização do tumor, um toque estético é necessário, como no caso de intervenções na face e na proximidade de olhos, nariz, lábios e orelhas”, pontua Renato.
Quando a ferida operatória é pequena e há tecido bom ao redor dela, normalmente é feita uma sutura simples, que nada mais é do que a aproximação das bordas da ferida. Mas e quando se trata de uma ferida mais ampla? Há duas modalidades que podem entrar em ação: o enxerto de pele ou a colocação de um retalho cutâneo.
“O enxerto ocorre quando a pele é tirada de um outro local do corpo e colocada na ferida operatória para fazer o fechamento. O retalho, por sua vez, é feito com tecido próximo a ferida operatória, com vascularização própria”, explica.
As reconstruções em casos de câncer de pele acompanham as evoluções gerais da cirurgia plástica. “O enxerto de pele às vezes é passado em uma máquina para receber uma malha antes da aplicação. Ao ser multiperfurado, ele é capaz de se estender e de ter uma amplitude maior de cobertura”, conta Renato.
Há também a evolução estética dos retalhos de uns anos para cá e alguns outros avanços da cirurgia plástica que ainda não estão sendo utilizados na reconstrução do câncer de pele.
“Em casos esporádicos, de grandes perdas de tecido, deixamos a cicatrização ocorrer naturalmente. É a chamada cicatrização por segunda intenção, quando a ferida vai fechar com recursos do paciente, sem enxertia e sem retalho. Nesses casos, entram alternativas mais modernas, como enxertia de gordura e curativos a vácuo”, pontua.
Por maior que seja, contudo, a evolução da medicina para lidar com o câncer de pele, nada é mais eficaz do que estabelecer uma rotina de hábitos saudáveis para combatê-lo antes mesmo de ele aparecer.
“Evitar o sol entre 10h e 16h, e, quando não for possível, usar uma proteção mecânica com roupa, chapéu e óculos escuros é fundamental para proteger a pele do câncer. Se essas barreiras podem ser associadas a protetores solares, tanto melhor”, conclui Renato.