O brasileiro demora, em média, 39 meses (ou seja, 3 anos e 3 meses) para buscar ajuda e tratamento contra a depressão. Os dados são de um levantamento do Instituto Ipsos, em parceria com a farmacêutica Janssen.
Entre os entrevistados para o estudo, a decisão prolongada de buscar atendimento especializado ocorreu, principalmente, pela “falta de consciência” em relação à depressão se tratar de uma doença (18%).
Para 13% dos que responderam a pesquisa, o motivo alegado foi resistência, medo de julgamento e da reação de outros ou por vergonha. Somente 10% acreditam que a depressão é uma doença com base biológica (e repercussões físicas no corpo). Outros 35% creem que a condição não pode ser tratada com medicamento e 36% acreditam que, para superar a doença, é preciso força de vontade.
Além disso, de acordo com um estudo recente publicado na revista The Lancet, até 80% das pessoas no mundo todo, acometidas pela depressão, sequer têm conhecimento de seu diagnóstico, ainda que a doença tenha forte relação com casos de suicídios e de tentativas de tirar a própria vida.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cerca de 97% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais (na maioria dos casos, não tratados) sendo cerca de 40% associados à depressão.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 90% dos suicídios poderiam ser evitados com tratamentos adequados.
Tratar a depressão é fundamental, mas, em diversos casos, os pacientes não respondem aos medicamentos. É o caso da depressão resistente ao tratamento (DRT), que ocorre quando não há resposta a dois tratamentos anteriores administrados em dose e tempo adequados. Nestes casos, os pacientes costumam apresentar ideações suicidas.
Dentre os transtornos depressivos, pode haver uma prevalência de resistência ao tratamento em torno de 40% dos pacientes brasileiros, segundo dados do estudo observacional TRAL (Treatment-Resistant Depression in America Latina), realizado na América Latina, com quase 1,5 mil pacientes.
Outros estudos apontam que pacientes com depressão podem ter um custo direto de 30% a 250% superior aos dos pacientes sem o transtorno. Em casos de DRT, esse custo pode ser ainda superior, chegando a um valor 400% maior.
No entanto, um novo estudo da Universidade Stanford (EUA), publicado no The American Journal of Psychiatry, apontou um avanço no tratamento contra a DRT. O novo protocolo usa a estimulação magnética transcraniana intermitente (EMTr) por theta burst (iTBS), resultando na remissão de 79% dos participantes do estudo duplo-cego (método no qual nem o voluntário da pesquisa e nem o investigador sabem o que está sendo utilizado, para não haver tendência de avaliação enviesada dos dados).
Além da depressão, o método atua no tratamento de transtorno bipolar, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, dor crônica, entre outros.
A estimulação magnética transcraniana intermitente (EMTr) por theta burst (iTBS) é uma técnica de neuromodulação não invasiva, com o benefício de regular o funcionamento cerebral e otimizar o tratamento em curso.
Diferentemente da EMTr convencional, em que o paciente precisa se submeter a um tratamento com sessões de 20 a 30 minutos, a estimulação por theta burst necessita de um tempo bem menor, melhorando a logística do tratamento para o paciente.
A técnica consiste na emissão de ondas magnéticas que estimulam neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato, modulando as regiões cerebrais com desequilíbrio da atividade destes neurotransmissores, que interferem diretamente nos transtornos do humor, nas áreas límbicas e também em regiões cerebrais associadas aos níveis de energia, a impulsividade e ao pensamento.
Os pulsos de estímulos em altas frequências (cinco vezes por segundo) reproduzem os ritmos naturais de atividade dos neurônios no cérebro, principalmente os localizados na região temporal, responsável pela consolidação da memória.
O tratamento tem duração de 20 visitas ao médico para sessões que duram de 3 a 6 minutos, cujos efeitos costumam ser superiores aos do protocolo convencional.
Por fim, o campo de atuação da estimulação eletromagnética transcraniana não invasiva, na psiquiatria, é amplo e um novo alvo terapêutico para as depressões resistentes ao tratamento, que apresentam alto potencial de suicidalidade.
Recentemente, um estudo conduzido por Guan-Wei Chen e sua equipe, em Taiwan, indicou que a EMTr por theta burst é eficaz e bem tolerada na redução de pensamentos suicidas e na depressão resistente. Os resultados do estudo foram publicados na Frontiers in Psychiatry.
*Adiel Rios é médico no Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IpQ-HCFMUSP) e coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da Secretaria Municipal de Saúde de Mauá.