• Precisamos falar sobre saúde mental no trabalho – e a Jungle ajuda as empresas a lidarem com isso

    O psiquiatra Pedro Shiozawa é cofundador da Jungle
    Jose Renato Junior | 9 maio 2022

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, a pandemia de Covid-19 fez aumentar em mais de 25% a quantidade de casos de depressão e ansiedade em todo o mundo em 2020. O levantamento ainda destaca que jovens e mulheres foram os mais atingidos.

    Se há alguma notícia boa nesse cenário é que saúde mental nunca esteve tanto em pauta. Trouxemos o assunto à mesa e hoje ele é discutido sem tantos tabus, até mesmo por ter se tornado uma questão pessoal para tantas pessoas. 

    De acordo com a pesquisa World Mental Health Day 2021, realizada pela Ipsos com a participação de 30 países, três em cada quatro brasileiros – ou 75% – afirmam pensar muito em seu próprio bem-estar mental.

    Isso nos coloca no topo do ranking mundial, tornando o Brasil o país mais preocupado com a saúde mental atualmente. Logo atrás vêm os sul-africanos (73%) e os peruanos (71%) – a média global é de 53%.

    O cenário não é diferente quando o assunto são síndromes laborais, aquelas provocadas pelo trabalho. De acordo com a ISMA-BR (International Stress Management Association), o Brasil é o segundo país com maior número de trabalhadores afetados pelo burnout.

    A Síndrome de Burnout, o esgotamento mental ocasionado pelo trabalho, foi reconhecida como doença de trabalho pela OMS (Organização Mundial da Saúde) este ano, e há protocolos específicos e bastante rígidos a serem seguidos após o diagnóstico. 

    Por isso tudo, muitas empresas passaram a olhar com mais seriedade para esse debate e para o bem-estar de seus funcionários. 

    Criada a quatro mãos, a startup Jungle Medical Sciences busca justamente trazer soluções para outras empresas com foco na saúde mental de quem trabalha por ali. 

    “Queremos entrar nas empresas para manter os colaboradores mentalmente saudáveis e afastados dos hospitais através de ferramentas médicas com comprovação científica, inovações tecnológicas e contato constante com os estudos e a academia”, diz Pedro Shiozawa, cofundador da Jungle. 

    MÉDICOS SENTIRAM DEMANDA NA PRÁTICA CLÍNICA

    Formado em psiquiatria pela Santa Casa de São Paulo, onde também fez o doutorado e dá aulas hoje em dia, Pedro ainda passou um tempo fora fazendo uma especialização em pesquisa clínica aplicada, em Harvard. 

    “Eu sou psiquiatra e meu irmão, Bruno Shiozawa, é emergencista e médico do trabalho. No começo da pandemia e na nossa prática clínica diária, a gente se deparava com uma cena que todo mundo já conhece: pessoas adoecidas e sobrecarregadas, muito focadas no trabalho – principal fonte de demandas no nosso dia a dia – e procurando ajuda”, conta ele. 

    Foi aí que surgiu a vontade de aproximar a neurociência justamente desse ambiente estressor de grande parte da população: o trabalho. 

    “Buscávamos inverter esse fluxo para diminuir o aporte de funcionários para dentro dos hospitais”, diz Pedro. 

    “E então começamos a estudar o tema e vimos que muitas empresas já tinham programa de wellness, convênio, suporte psicológico. Então por que as pessoas, mesmo tendo programas de benefícios bem completos, continuam adoecendo?”

    A resposta veio de um mergulho intenso dele e do irmão no problema: é preciso mais do que oferecer esteiras para combater o sobrepeso, porque o segredo do sucesso está na mudança do mindset da pessoa. 

    Neste caso, o mesmo se aplicava – as empresas precisam mudar suas culturas de trabalho e não só oferecerem contenção de danos posteriores. 

    “O Luiz Edmundo, da BRH Consultoria – um dos nossos sócios – diz que essa pandemia é uma oportunidade para pararmos de trocar o pneu dos carros e começar a construir estradas melhores”, afirma o psiquiatra. 

    “Essa tem sido nossa missão: como oferecemos ferramentas para o mundo corporativo falar sobre saúde mental, como colocar o tema na mesa?”

    GOTA D’ÁGUA PARA A CRIAÇÃO DA EMPRESA: UM CHOCOLATE 

    O estopim para a criação da Jungle, por incrível que pareça, veio de um simples chocolate. Durante um plantão, uma colega de Pedro sofreu uma crise de ansiedade. 

    O chefe da área, também da área da saúde, ofereceu o doce como uma solução para a crise. “Isso foi a gota d’água: no meio de um hospital em São Paulo a gente fala pras pessoas comerem chocolate pra melhorar. Parecia inacreditável”, ele conta. 

    Decididos a empreender, Pedro e Bruno buscaram investidores e caminhos possíveis. “Fomos conversar com o Ruy [Shiozawa], o dono da Great Place to Work, e eles estavam construindo um ecossistema pensando em boas práticas para empresas”, relembra. 

    “Fizemos um trabalho dentro de casa, para pegar feedbacks, pensar em produtos adequados e melhorar todo dia. Nascemos, assim, como uma startup que podia contar com a expertise de uma grande consultoria para começar a dar os primeiros passos.”

    A Jungle foi lançada em fevereiro de 2021, composta por uma equipe multidisciplinar e cinco sócios. Por causa da alta demanda, a empresa rapidamente se pagou. 

    Em quatro meses, mais especificamente, veio o chamado break even do mundo dos negócios. As empresas estavam ávidas para solucionar esse gigantesco elefante na sala que é o bem-estar de seus trabalhadores. 

    FERRAMENTAS PARA O GESTOR LIDAR COM A EQUIPE

    Segundo o psiquiatra, a Jungle oferece ferramentas para o gestor lidar com a saúde mental de sua equipe. 

    “Essas ferramentas têm um tripé. O primeiro deles é rastrear e identificar o risco na equipe. Usamos escalas validadas no meio acadêmico, métricas para trazer os níveis de proteção das pessoas, inteligência artificial. Tudo em relação aos principais sintomas de ansiedade, depressão, burnout, estresse”, explica ele.

    Esse mapeamento é feito, principalmente, por meio de um questionário inicial aplicado de maneira totalmente sigilosa, para proteger os participantes. 

    A partir daí, o segundo pilar é colocado em prática: a capacitação. “São desde palestras de materiais síncronos e assíncronos, workshops, casos simulados, para entender cada grupo seja para liderança e familiares, qual é a função de cada um.” 

    Para gestores, a Jungle ensina como reconhecer sintomas de estresse, como dar feedbacks positivos. “Não queremos torná-los psicólogos, mas empoderá-los, mostrar como podem oferecer pílulas de conhecimento de qualidade de vida no dia a dia”, conta.

    O terceiro pilar deste tripé é a mentoria médica. “O burnout vai continuar existindo porque tem um papel que é individual, do próprio colaborador, mas as empresas precisam saber fazer sua parte”, diz o médico. 

    “Dependendo da jornada que cada empresa faz, ela tem acesso livre para a equipe médica. Isso empodera o gestor e a liderança sobre o tema, de tal maneira que o ambiente vai se tornando de confiança.”

    O modelo B2B é oferecido em jornadas – ou seja, cada empresa contratante pode decidir pelo tripé completo ou somente uma das partes. Até mesmo a ordem fica a critério do cliente. 

    “É tudo muito customizado. E, como é um tema muito sensível, nossa ideia é oferecer para a empresa o que for necessário. Algumas contratam uma jornada de um ano, com tudo que têm direito, expandem os pacotes para familiares, varia muito. Hoje a gente trabalha desde empresa com menos de 100 funcionários e líderes de grandes cooperativas e até mentoria individual”.

    Não há nem mesmo um perfil definido de clientes, mas sim algo que une todas: uma grande preocupação já prévia, antes da atuação da Jungle, com o bem-estar desses funcionários. 

    “Uma empresa disse que somos ‘concierge emocional’, porque acabamos envelopando os programas de wellness que elas já têm. O que vemos é que as empresas mais preocupadas com a saúde mental de seus times são as empresas que já se preocupavam com isso, mas não há um nicho específico”, diz. 

    Por ora, não há investimento externo, somente os sócios e os lucros próprios. Mas, por estarem crescendo em escalada, eles já consideram abrir uma rodada de investimentos em um futuro próximo.

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