Um aparente paradoxo permeia a saúde atual. Se, por um lado (e agravada pela pandemia), estamos nos preocupando mais com ela, por outro andamos deixando de lado a saúde de nossos olhos.
Uma recente pesquisa levantou um alerta sobre isso. O estudo, feito pelo Ibope e encomendado pela multinacional Alcon em parceria com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), apontou que 34% dos brasileiros adultos nunca foram ao oftalmologista.
O negócio fica ainda mais paradoxal quando pensamos que, justamente por causa da pandemia e do aumento de nosso tempo de tela, nossa visão piorou.
O estudo “#VisãodeFuturo: A Saúde Ocular em Tempos de Coronavírus”, elaborado por 50 especialistas espanhóis e portugueses , mostra que 78% das participantes apresentaram pioras na visão desde 2020. A miopia é um dos distúrbios mais presentes.
Outro estudo, este publicado na revista científica The Lancet, mostra o impacto disso para as empresas. De acordo com o documento, problemas visuais moderados e graves podem resultar, na média, em US$ 410 bilhões perdidos por ano em decorrência da queda na produtividade.
De que forma melhorar isso tudo, inclusive atingindo populações de lugares mais remotos do país? Segundo a healthtech Eyecare, com a ajuda de tecnologia e inteligência de dados.
Fundada em 2019 pelos médicos Marco Antonio Negreiros, oftalmologista, e Ariadne Porto Dias, especialista em Gestão de Saúde, a startup visa democratizar o acesso à saúde ocular e transformar o modo como a oftalmologia é feita.
UM OLHAR DE PONTA A PONTA
Durante a pesquisa de mercado feita por Negreiros e Ariadne, o que chamou a atenção deles foi a fragmentação e as ineficiências do setor oftalmológico.
“Foi quando reunimos todos os stakeholders envolvidos no ecossistema da oftalmologia e entendemos a dor de cada um para construirmos algo sólido e que realmente agregasse valor positivo para todos”, conta Negreiros.
O CEO reitera que a Eyecare não é uma startup convencional que tem apenas um produto e que resolve apenas um problema.
“Pelo contrário, temos uma visão sistêmica do problema e cada um de nossos produtos alcança todos os nossos stakeholders de alguma forma, que são médicos oftalmologistas, pacientes, indústrias ótica e farmacêutica, operadoras de saúde e empresas contratantes dos planos de saúde para os seus colaboradores”, afirma.
A partir daí, com tecnologia própria, a startup criou quatro plataformas diferentes.
Uma delas é o chamado Eyecare BI, sistema voltado para consultórios, clínicas e hospitais oftalmológicos com o intuito de contemplar tudo o que o profissional precisa: prontuário otimizado, estoque, financeiro (totalmente integrados) e business intelligence.
“Os médicos relatam que economizam 25% a 30% do tempo de seu dia usando o nosso produto”, anuncia o CEO.
Já para os pacientes foi criado o Glauco, um aplicativo para o acompanhamento contínuo do glaucoma.
A ferramenta possibilita registrar todo tipo de tratamento e acompanhamento, além de alarmes e lembretes para medicamentos, informações sobre doenças oftalmológicas, vídeos educativos, visualização de como está o tratamento ao longo do tempo, entre outros benefícios.
“Essas duas ferramentas digitais [Eyecare BI e Glauco] são interligadas, o que possibilita que o médico receba todo o acompanhamento de tratamento do paciente”, conta Negreiros.
“Ao mesmo tempo, o paciente fica empoderado com os seus próprios dados da saúde, com resumo de todas as consultas, solicitações de exames, prescrições feitas e acesso a esse profissional que não é simples de se encontrar no mercado, principalmente fora dos grandes centros.”
COMO EMPRESAS E OPERADORAS ENTRAM NA MIRA
Seguindo a premissa de atingir todas as frentes, a empresa criou o Benefício de Visão – hoje seu carro-chefe.
Voltado para as empresas, tem o intuito de cuidar de maneira contínua e longitudinal de todos os colaboradores, independentemente do local em que estejam.
Um ótimo exemplo de como funciona o sistema aconteceu alguns meses atrás. Uma jovem funcionária passou pela triagem oftalmológica em sua empresa e foi alertada com potencial risco de uma doença oftalmológica que causa cegueira.
“Posteriormente, fizemos o atendimento dessa paciente na sede da empresa e a suspeita foi realmente ratificada, sendo necessário realizar alguns outros exames complementares”, lembra o CEO.
“O resultado foi enviado para a nossa plataforma e o retorno foi feito pela nossa teleoftalmologia.”
Em seguida, o médico confirmou o diagnóstico da doença em questão e iniciou o tratamento. “Em suma, tratamos uma paciente desde a triagem até a prescrição utilizando inovação e nossa tecnologia. Isso é propósito aplicado à cultura. Isso move o time”, comemora Negreiros.
Quando vai até a empresa contratante, a Eyecare Health leva recepção especializada, enfermagem, aparelhos para exames complementares, médicos oftalmologistas e até óticas conveniadas.
O acompanhamento dos colaboradores é feito ao longo do ano. Eles têm acesso a um pronto-socorro digital e ao app Glauco. O RH, por seu lado, recebe relatórios completos sobre a saúde ocular dos funcionários.
O quarto produto da Eyecare é um algoritmo para auxiliar as operadoras de saúde a terem melhor visualização do que acontece dentro da sua carteira de oftalmologia.
A tecnologia oferece um diagnóstico detalhado de como é possível melhorar os custos sem sacrificar a qualidade do atendimento e seus resultados.
“Já possuímos em nossa base uma operadora com 42 mil vidas e, neste produto, dividimos nossa atuação entre os braços de gestão e de cuidado”, diz o médico.
UMA STARTUP COM VISÃO DE FUTURO
Negreiros conta que, um tempo atrás, a startup passou por uma pequena rodada de investimentos com anjos. Agora, a empresa está se preparando para uma rodada seed.
Para os próximos anos, a ideia da Eyecare é usar os recursos para reforçar mecanismos que melhorem ainda mais a consciência dos pacientes acerca da saúde ocular e que melhorem o acesso.
Do outro lado da mesa, a empresa tem o intuito de manter os médicos mais inteirados das tecnologias, conectados a seus pacientes e com visualização total do seu negócio.
Para a indústria, a startup quer que o setor consiga ter visualização melhor do que acontece na prática diária de cada doença.
Assim como deixar as operadoras de saúde mais habilitadas a aplicar oftalmologia com foco na prevenção e no melhor cuidado e sendo guiadas por processamento de dados e inteligência dos mesmos.
“Temos como uma visão para futuro de uma sociedade em que qualquer pessoa, a qualquer momento e em qualquer lugar, possa ter acesso a um cuidado ocular de qualidade”, diz o CEO.