É inquestionável que emoções e sentimentos afetem a saúde. Nas últimas décadas, intensificaram-se estudos e pesquisas sobre sua influência no organismo, levando-se em conta as manifestações físicas e o desenvolvimento de doenças.
Para os pacientes com asma, emoções fortes são gatilhos importantes. Quando sentem raiva, medo, excitação ou quando gargalham, gritam e choram, sua respiração muda e o processo de inspirar e expirar se acelera, podendo desencadear uma crise de asma.
Pode parecer uma piada de mau gosto, mas a risada é um gatilho muito comum que pode provocar uma crise.
Isso ocorre devido a um mecanismo semelhante ao que acontece quando se pratica exercícios aeróbicos: a troca do ar em grandes volumes e com maior velocidade não dá tempo suficiente para esse ar entrar pelo nariz, ser umidificado e aquecido antes de chegar aos pulmões.
O grande responsável, nesse caso, é a mudança no padrão respiratório da pessoa, como descrito acima, causando os sintomas típicos da asma: aperto no peito, falta de ar, tosse, chiado no peito, tensão dos músculos do pescoço e do peito, respiração rápida e alterações na frequência cardíaca.
Asma é uma condição crônica dos pulmões que envolve inflamação e hiperatividade das vias aéreas.
Com muitos sintomas e apresentações, a enfermidade pode ser desencadeada por mudanças climáticas, infecções virais, alergias sazonais, limpeza/trabalho doméstico e emoções fortes.
É importante esclarecer que tanto emoções positivas como negativas podem provocar o espasmo dos brônquios quando acontecem repentinamente – e é a isso que chamamos de emoções fortes.
Esse gatilho pode desencadear uma crise mesmo anos após o paciente estar livre delas – ou seja, pode acontecer se ele for surpreendido por uma emoção imprevista e impactante, a exemplo de um luto.
Ainda de acordo com o especialista, 43% das pessoas com a doença afirmam que o estresse pode ser um gatilho – e, para elas, é de vital importância saber como controlar a condição.
Também sabemos que a depressão, os ataques de pânico e o luto estão ligados aos sintomas da asma, mas esses podem ser controlados à medida que o paciente conhece seu histórico.
A ASMA GRAVE E OS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS
Estudos recentes indicam que a ansiedade e a depressão estão mais associadas a pacientes com asma grave do que em pessoas consideradas saudáveis.
Portadores desta doença pulmonar apresentam prevalências de 30% de ansiedade e de 10 % de depressão2.
Os transtornos psiquiátricos interferem na qualidade de vida de qualquer pessoa, mas amplificam a vulnerabilidade, o medo e a insegurança para quem tem asma.
A aflição de uma crise de ansiedade pode gerar a sensação de falta de ar, às vezes de difícil diferenciação se é só psicológica ou se está relacionada com a doença pulmonar.
Por outro lado, situações comuns em pacientes com asma grave, como o abuso de medicações como corticoides sistêmicos e internações hospitalares de urgência, prejudicam suas atividades simples do dia a dia e acabam se tornando fatores que intensificam os problemas da saúde mental3.
Tratar comorbidades, caso dos transtornos psiquiátricos, é uma das etapas fundamentais no controle da asma grave.
É importante aderir ao tratamento adequado para a saúde mental e considerá-lo auxiliar para a manutenção de uma vida mais equilibrada, já que a presença de ansiedade e depressão exerce forte influência no controle da doença pulmonar3.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de 300 milhões de pessoas convivendo com asma globalmente e é provável que até 2025 mais 100 milhões sejam afetadas1.
A asma é considerada grave quando, apesar da utilização de altas doses de duas ou três medicações de controle associadas, ainda persistam sintomas, crises e limitações no dia a dia, criando dificuldades para os pacientes em seu cotidiano.
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Ciro Kirchenchtejn é mestre em Pneumologia pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e doutorando da Pós-Graduação de Medicina Translacional da Unifesp.
Referências: