Em 1960, o médico norte-americano R. Adams Cowley concebeu o conceito da “hora ouro”: o período de suma importância no qual é primordial iniciar o cuidado definitivo de um paciente traumatizado grave.
Essa não é uma hora completa, com 60 minutos, mas sim uma janela de tempo que varia de pessoa para pessoa.
A ideia é simples, mas essencial à medicina moderna: entender o melhor momento de ter acesso ao paciente, transportá-lo para uma unidade de saúde e aplicar o tratamento mais efetivo é, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte.
O cardiologista Jamil Cade viu isso de perto quando participou, no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, do Latin (Latin America Telemedicine Infarct Network), programa de telemedicina que conecta unidades de saúde e ambulâncias a centros de tratamento distribuídos pela América Latina.
De 2014 (no início do programa) até 2018, foi possível observar uma redução de 40,8% na taxa de mortalidade por infarto agudo do miocárdio na região e um aumento de 48% de casos atendidos na unidade.
Grande parte desse êxito acontece pela concepção do norte-americano que abriu esta matéria: a média de atendimento do hospital é de 58 minutos para infarto – embora o tempo médio estipulado pela American Heart Association seja de 90.
No ano de 2018, Jamil percebeu que, se essa era uma realidade vivida por ele durante todos esses anos, também poderia ser uma oportunidade de expansão – e, claro, de negócios.
Era o início da W3.Care, que fornece soluções tecnológicas como inteligência artificial, telemedicina e dados em tempo real para unidades móveis de resgates e ambulâncias com o objetivo de reduzir custos, sequelas e mortes.
A startup nasceria como um bootstraping entre Jamil e seu primeiro sócio, Isaac Felippe Correa Neto, até abril de 2020 – quando o negócio recebeu um pré-investimento seed de um family office e um investidor-anjo.
“A gente deve estar abrindo para uma captação agora no meio do ano, e já estamos decidindo isso: provavelmente vamos fazer uma nova rodada para poder de fato ampliar os nossos trabalhos para o Brasil todo”, revela Jamil.
MÉDICOS ESPECIALISTAS ONDE ELES SÃO NECESSÁRIOS
Nas palavras do médico empreendedor, a W3.Care é uma healthtech que “leva médicos especialistas em locais onde eles não existem”, como UBS, hospitais menores, ambulâncias e resgates, dando suporte para uma automatização dos processos.
“Nós orientamos o que fazer, para onde encaminhar, quais são as normas a serem seguidas considerando diretrizes de atendimento pré-hospitalar e teleconsultas com especialistas 24/7”, comenta.
Tudo isso, segundo Jamil, vem acompanhado de dados, métricas e informações em tempo real que impactam toda a cadeia do atendimento da saúde.
Parte do sucesso da W3.Care se dá graças à teleinterconsulta – troca de informações e opiniões entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico, área que Jamil tem experiência desde 2014.
A startup oferece as seguintes soluções:
A aplicação de inteligência artificial da W3.Care é o carro chefe de tudo o que a envolve: ela traz redes neurais convolucionais que avaliam a chance de infarto agudo do miocárdio, com algoritmos de aprendizado profundo, depois de analisar mais de 15 mil eletrocardiogramas – sendo mil com a presença da doença.
TECNOLOGIA PARA ATENDIMENTO DE SUSPEITA DE COVID-19
De 2019 para 2020, a W3.Care teve um crescimento de pelo menos 50% – e, entre 2020 e 2021, 40% em relação ao serviço de APH.
No primeiro pico da pandemia no Brasil, entre abril e setembro de 2020, a startup disponibilizou atendimento gratuito à população, como uma triagem de sintomas de Covid-19 – outro solução oferecida pela empresa.
“Atendemos pelo menos 4 mil pacientes gratuitamente com sintomas de Covid-19 – triagem, geolocalização, sintomas, desfechos – e pudemos perceber como era o atendimento direto às pessoas. O TeleCovid nos ajudou a entender e reduzir 95% das procuras a prontos-socorros”, comenta.
Em outubro de 2020, a W3.Care lançou uma plataforma própria para doenças clínicas em diversas especialidades – de atendimento psiquiátrico a nutrólogos e médicos multiespecialidades.
“De lá para cá, a gente vem aumentando, progressivamente, cerca de 10% ao mês de atendimento, por causa da pandemia. E hoje já temos, no nosso portfólio, pelo menos 10 empresas que usam nossa tecnologia para atender seus beneficiários, seus pacientes e funcionários”, explica Jamil.
O número total de atendimentos da W3.Care, até hoje, foi de pouco mais de 40 mil – mas essas parcerias B2B já rendem uma base de 600 mil vidas, graças às corporações que acreditam na startup.
Existem diversos caminhos para chegar à W3.Care: empresas que têm ambulâncias e querem contar com os serviços, pacotes para empresas e o famoso B2B2C, envolvendo médicos e consultórios que podem utilizar a plataforma.
Reduzindo custos do SUS, salvando vidas e investindo em um negócio inovador, Jamil segue com o apetite dos grandes empreendedores – e quem ganha é a medicina e a sociedade.
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