Em 2016, Fabio Veras desenvolveu o FIEMG Lab, um polo de inovação, ligado à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, para conectar indústrias de peso a startups que apresentassem a elas soluções inovadoras.
Cinco anos e R$ 30 milhões em negócios gerados no programa depois, Veras se sentiu realizado ao receber uma mensagem que deixava claro que o programa ajudou a erguer a ponte: nela, o CEO da ArcelorMittal no Brasil, Jefferson de Paula, dizia que criara um fundo de R$ 100 milhões para investir em startups.
Hoje, Veras quer fazer com o mercado de saúde o que o FIEMG Lab vem fazendo com a indústria de siderurgia e mineração.
Ele é o cofundador e CEO da Saúde Ventures, uma venture builder que seleciona startups no mercado para impulsioná-las.
O negócio tem como foco a incorporação de inovação aberta, em que se buscam ideias e soluções já em certo grau de desenvolvimento, em vez de criá-las do zero.
No chamado universo 4.0, o da inovação aberta, a venture builder (ou fábrica de startups) pinça as ideias mais promissoras que estão brotando no mercado e cria o ambiente propício para elas crescerem fortes e saudáveis a fim de alçar voos bem mais ousados.
Para Veras, a saúde é uma área especialmente promissora nesse sentido.
Ele explica que temos uma realidade em que sistemas e plataformas de saúde não conversam e há muita fragmentação e ineficiência. Por outro lado, o desenvolvimento da ciência de dados está impactando o setor, de diagnósticos à gestão. O momento é favorável.
“A saúde é uma cadeia de valor complexa com centenas de elos operacionais, o que representa quase 10% do PIB brasileiro”, afirma.
“Toda solução da saúde tem potencial de escala. A ausência de uniformidade entre hospitais, operadoras e agentes na geração de experiência e desfecho ao paciente representam oportunidades incríveis”, acredita.
FOCO: STARTUPS EM ESTÁGIO INICIAL
O foco da Saúde Ventures são startups em estágio inicial de desenvolvimento. Todos os meses, ela analisa cerca de 45 projetos, conversa com seus idealizadores, vislumbra seu potencial.
Desses, sete a dez vão para o processo seletivo formal. Os aprovados, em seguida, têm uma banca de seleção.
“Quando enxergamos um empreendedor com uma vivência na área de saúde e bem-estar, história empreendedora prévia, uma solução validada tecnicamente e o desafio crítico de crescer com um diferencial competitivo, então acreditamos que há oportunidade de sermos decisivos”, explica Veras.
“Enquanto realizamos essa entrevista, estamos negociando com cinco times.” O papel da Saúde Ventures é evitar que esses potenciais sucessos morram na praia.
“Nosso foco primário é somar para que a startup tenha uma performance no mercado que a permita conseguir um investimento série A de R$ 1 a 4 milhões”, conta o empreendedor.
“Feito isso, na segunda etapa, provavelmente seguiremos com elas para a jornada rumo à série B, um valor já bem mais alto.”
Atualmente, oito startups integram o portfólio.
As soluções que elas oferecem são, como se espera, bem variadas, de suporte a decisões clínicas de médicos por meio de algoritmos – caso da AVI Saúde – a gestão de água e energia em hospitais e clínicas, tecnologia da GTI.
A Doutor Ao Vivo, por sua vez, nas palavras de Veras, “resolve a dor das longas filas de cirurgias em hospitais no interior no Brasil”.
“SAÚDE É O SETOR QUE MAIS CARECE DE TECNOLOGIA”
A Saúde Ventures mantém um espaço central de coworking, em Belo Horizonte, mas cada startup tem autonomia para tocar seu dia a dia onde e como preferir.
O esquema é descentralizado e, além disso, a rede de sócios-investidores é composta majoritariamente por gestores de hospitais, donos de clínicas, médicos e outros empresários do setor, que têm estrutura para oferecer o que as jovens healthtechs escolhidas precisarem.
Veras é o elemento externo que dá liga à holding, fundada com o cardiologista Marcell Temponi. Ele tem formação executiva, foi diretor técnico e de operações do Sebrae e, nisso, mergulhou no mundo da criação, desenvolvimento e incubação de startups.
“Saúde é o lugar que carece de mais mudanças em favor de eficiência econômica e, sobretudo, de melhores desfechos para os pacientes por meio da tecnologia.”
Sobre o futuro do setor, ele acredita que será histórico. “A saúde irá passar por uma revolução sem precedentes nos próximos oito anos”, diz.
Em 2019, antes da pandemia, estimava-se que o mercado global de saúde chegaria a US$ 11,9 trilhões em 2022. Veio 2020 e, com ele, a maior crise sanitária do planeta em cem anos. Então, a cifra pode se tornar ainda maior.
A Saúde Ventures faz parte da FCJ, maior venture builder da América Latina, que tem um portfólio avaliado em R$ 184 milhões. Veras explica que cada venture builder da holding tem investidores próprios.
O primeiro grande parceiro da Saúde Ventures foi a Fundação Lucas Machado (Feluma), entidade filantrópica que mantém institutos como a Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, o Hospital Universitário Ciências Médicas de Minas Gerais e a Faculdade Feluma.
Um exemplo de como opera esse sistema de investidores independentes, mas que muitas vezes se juntam ocorreu recentemente. Em março, Saúde, FCJ e Feluma tornaram-se sócios na Feluma Ventures, uma corporate venture builder, modelo que serve para aproximar empresas de soluções inovadoras.
Nesse caso, a ideia é investir em novas ferramentas e ideias de saúde e educação que possam ser implementadas na rede de institutos Feluma.
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