Você sabia que apenas 2% do investimento dos países em políticas de saúde é destinado para o tratamento de doenças psiquiátricas e neurológicas? Os números são da OMS e jogam luz sobre um problema que já assola a sociedade há décadas: a falta de cuidado com a saúde mental.
Esse cenário se tornou ainda pior a partir do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 relegou milhões de pessoas à solidão de seus próprios lares, e a falta de contato social fez do homem, um ser acostumado a se relacionar com seus iguais há milênios, imensamente fragilizado.
O censo norte-americano de dezembro indicou que 42% das pessoas entrevistadas relataram sintomas de ansiedade e depressão no período, porcentagem 11% maior em comparação ao ano anterior, pré-pandemia. No Reino Unido não é diferente: entre julho de 2019 e março de 2020, 10% da população relatava sintomas de depressão. Em junho de 2020, o número subiu para 19%.
O Brasil, por sua vez, é o país com a maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo, e o quinto em casos de depressão, segundo dados também da OMS referentes a 2020.
Foi na tentativa de mudar esse cenário que, em 2017, nasceu a Telavita, uma healthtech que quase parece ter previsto a importância da tecnologia e dos telesserviços que seriam, enfim, amplamente adotados em 2020.
SAÚDE MENTAL A POUCOS CLIQUES DE DISTÂNCIA
Há quatro anos, observando a insuficiência dos meios de tratamentos convencionais e a iminente necessidade de uma maior e melhor atenção à saúde mental da população, o economista Lucas Arthur Souza se uniu ao empreendedor alemão Andy Bookas e à psicóloga Milene Rosenthal para fundar a companhia.
“Somos todos empreendedores e contamos com experiências prévias em finanças, e-commerce, RH e saúde”, conta Lucas, o COO da startup.
Para colocar a Telavita de pé foi preciso investir do próprio bolso, além de buscar duas rodadas de investimento. Somados, dois grupos de investidores-anjo dos EUA e Europa possibilitaram uma captação de mais de R$ 5 milhões.
A Telavita é uma clínica de consultas online que tem como objetivo conectar profissionais da psicologia brasileira a pacientes presentes em todo o mundo, buscando ampliar o acesso aos cuidados com o bem-estar e saúde emocional e mental – que passou a contar, recentemente, com profissionais da psiquiatria em seu portfólio.
As consultas são feitas de maneira virtual, criptografadas e têm duração de até 50 minutos. Basta entrar na plataforma e escolher o tipo de consulta desejada. A Telavita sugere uma série de profissionais, com informações sobre eles e preços.
“Os transtornos mentais não veem rosto, gênero nem mesmo idade, sendo doenças muitas vezes silenciosas e com alto grau de risco para o bem-estar mental e para a saúde física”, afirma Milene.
“Sabemos que, além da psicoterapia, existem alguns casos em que o uso de medicamentos se faz necessário no tratamento do paciente. Por isso, decidimos disponibilizar em nossa plataforma sessões com médicos especializados em psiquiatria, democratizando e ampliando o acesso aos cuidados com a saúde mental da população.”
Os psicólogos e psiquiatras da Telavita ficam disponíveis aos pacientes em um ambiente totalmente digital. “Nossa proposta é um tratamento de qualidade, integrado, seguro e altamente conveniente”, pontua Lucas.
“Com poucos cliques, ele pode escolher, agendar e fazer sua sessão por meio de qualquer aparelho e em qualquer lugar do mundo, acompanhar sua evolução clínica, além de receber seu encaminhamento médico ou prescrição de medicamentos, quando necessário, sem a necessidade de sair de sua casa”, explica.
Em seu modelo de negócios B2B2C, a Telavita atende também empresas e operadoras. Para elas, a Telavita oferece um cuidado completo em saúde mental, desde o mapeamento até o tratamento, focado em melhorar indicadores-chave de produtividade e bem-estar da população.
CRESCIMENTO DE DEZ VEZES EM 2020
Foi no mesmo ano de sua fundação que a Telavita recebeu seu primeiro reconhecimento em forma de prêmio: ela foi considerada a 2ª startup mais inovadora da América Latina no G-Start Up Worldwide.
“A participação foi muito rica e interessante para nós. Mesmo no início de nossa jornada, na época, conseguimos validar algumas teses iniciais com investidores de impacto e comparar nossa proposta de valor a outros projetos internacionais”, relembra Lucas.
“Entretanto, outros prêmios de impacto também valem a pena serem citados, como o Google Startup Battle, do qual fomos vencedores em 2020”, pontua.
Lucas conta que 2020 foi um ano transformador para a healthtech. A startup cresceu 10 vezes o seu próprio tamanho – e projeta esse mesmo aumento para 2021.
“Entretanto, acreditamos em um modelo sustentável de inovação e sabemos que ainda há muito para acontecer e evoluir no mercado de saúde. Para a verdadeira transformação acontecer, é necessária uma evolução de todo o ecossistema, o que ainda deve levar de 7 a 10 anos”, ressalta.
Para o CCO, os impactos da pandemia e a revolução das healthtechs irão refletir por muitos anos na indústria – inclusive quando a Covid-19 for embora.
Na opinião do empreendedor, o processo não nasceu – ele apenas foi acelerado. “O tema ganhou proporção, novas legislações entraram em vigor e os gargalos do sistema de saúde ficaram ainda mais expostos”, explica.
“Hoje, tanto operadoras de saúde quanto empresas entenderam a necessidade de oferecer um cuidado de saúde e bem-estar de qualidade. Se depender de nós, continuaremos levando para cada vez mais pessoas a consciência e o cuidado de que elas precisam”, finaliza.
NOVAS FUNCIONALIDADES EM 2021
Se o futuro parece promissor nas palavras de Lucas, os planos da Telavita são um reflexo desse ânimo. Ele promete novas funcionalidades para 2021 e 2022 – E afirma que todas chegarão de surpresa para seus usuários.
Mas adiantou: a Telavita pretende utilizar o aprendizado de dados para aprimorar modelos de predição e interoperabilidade com sistemas de outros provedores de saúde. Algo importantíssimo, considerando o cenário nacional e deficitário da saúde mental no país.
“Estamos falando de um problema estrutural, que pode levar anos para ser amenizado. Além disso, o mundo tem mudado e novas síndromes aparecerão, assim como novas linhas de cuidado. Portanto, para nós, é um tema perene.”
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