Criada como uma empresa de plano odontológico à moda antiga na década de 1990, a Clin Plano Odonto Digital investe fortemente em tecnologia há cinco anos com o propósito de se transformar numa healthtech.
E a etapa mais recente foi a criação de um hub de inovação para startups parceiras que possam desenvolver ainda mais recursos para o ClinApp e facilitem a vida de clientes e profissionais credenciados.
“A gente percebeu uma oportunidade de ajudar não só em odontologia, e assim nasceu a ideia do hub: de criar frentes para a saúde que possam agregar ainda mais para nossos beneficiários”, afirma José Magalhães Neto (ou Neto Magalhães, como é chamado na empresa), pernambucano de 39 anos que é o CTO da Clin, na qual chegou em 2010 após dez anos de experiência com tecnologia para o setor de saúde.
“Atuamos sobre três pilares: saúde, autoestima e bem-estar. São as verticais que a gente utiliza para avaliar as startups que querem se plugar no nosso hub.”
Uma delas foi a PickCells. “Ela tem uma solução de inteligência artificial para as partes diagnóstica e clínica e que tem uma sinergia muito grande com o nosso propósito, que é democratizar a saúde”, afirma ele.
Além da citada PickCells, o hub já reuniu outras três startups: a Devexo, aceleradora de negócios digitais; a Zapet, que criou um aplicativo de telemedicina para animais de estimação; e a Saly, de compras corporativas.
“Como já temos toda a infraestrutura de tecnologia e também de processo, call center, marketing, equipe comercial, a startup que entra nesse hub consegue se valer de toda essa mistura”, diz Neto.
“E juntos, construímos novos produtos para fortalecer o mercado, com os beneficiários da Clin desfrutando dessas funcionalidades que incrementamos no app.”
A seleção para fazer parte do hub pode vir por parte da Clin, quando a empresa identifica uma startup interessante, ou porque foi ela procurada. “Primeiro, a startup precisa estar alinhada com aqueles pilares que falei”, diz Neto.
“Se a gente tem um objetivo ou um desafio, tenta identificar no mercado se alguma startup já tem uma solução. E, às vezes, elas chegam querendo participar por conhecer outras startups que já estão dentro. Mas é preciso estar na direção que a gente quer.”
APP OFERECE TAMBÉM TELECONSULTAS MÉDICAS E PSICOLÓGICAS
O CTO aponta que a pandemia de coronavírus foi decisiva para a empresa investir ainda mais no desenvolvimento cada vez maior de seus recursos digitais: “Começamos a investir no nosso app na parte de medicina também, para fazer telemedicina, teleconsulta”, diz.
“Nosso foco é odontologia, mas percebemos que, neste momento da Covid, existia muita carência de informação. E criamos mais uma funcionalidade no app para entregar aos beneficiários contatos com médicos e psicólogos.”
O hub e sua produção são um grande passo na aposta em tecnologia que se iniciou em 2016 e transformou a empresa, que hoje abrange todos os estados com sua rede credenciada.
Mas, na origem, a Clin era apenas um plano de saúde odontológico nos moldes tradicionais com atuação concentrada no Nordeste, fundado em 1997 pelo cirurgião-dentista Joaquim Neves com o nome Ortoclin.
O dentista estava estabelecido em Recife, onde tinha uma clínica. Mas, cearense, fez questão de fundar a empresa em seu estado natal, mais especificamente em Juazeiro do Norte. No entanto, as unidades administrativa e de tecnologia ficam na capital pernambucana.
Em 2010, Breno Neves, filho do fundador e também dentista, começou a trabalhar na empresa na parte comercial como diretor-executivo. Logo percebeu que investir em tecnologia e inovação seria fundamental para o crescimento da empresa. Hoje, Breno é o CEO da Clin.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA DAR AUTONOMIA AO CLIENTE
Neto relembra como a partida na transformação digital começou naquela época. Ele ainda não fazia parte da empresa: “Eu dava consultoria para a Clin e conversava com o Breno. E percebemos que todo mundo no mercado seguia uma linha parecida, a tecnologia oferecida não trazia um diferencial”, relembra.
“Era um plano clássico como qualquer outro, com corretores. Nem existia venda pela internet ainda, era muito incipiente. Então resolvemos fazer algo diferente e investir nisso. Nosso objetivo principal era democratizar a saúde, trazer autonomia para o cliente”, diz o CTO.
“Fomos uma das primeiras operadoras a lançar um site para venda de planos, além de credenciamento, expansão de rede. O processo foi ficando mais automatizado e estava tendo bom resultado.”
Com o bom retorno que as transformações digitais traziam, em 2016 veio a decisão de reposicionar a empresa com uma visão de healthtech – o que incluiu a mudança de nome de Ortoclin para Clin Plano Odonto Digital.
“Até fundamos uma primeira startup, que a gente chamou de Clintech. para começar a desenvolver um site muito mais harmonizado, trazer uma experiência do usuário sempre como ponto crucial para o negócio”, lembra o CTO.
“Trouxe profissionais dessa área de user experience para entender as necessidades do cliente e começar a trabalhar com data driven. Todas as nossas decisões são baseadas em dados. Isso ajuda a dar os próximos passos.”
COMO UMA IDEIA SE TRANSFORMA NUMA INOVAÇÃO
Neto Magalhães explica o processo para desenvolver inovações no ClinApp. “Começa com um sprint para a validação de uma ideia. Trazemos clientes para dentro do negócio, convidamos profissionais da saúde para participar dessa interação”, afirma.
“Se entendemos que é algo que agrega valor, lançamos um BT, um beta teste, para um grupo fechado de usuários. Com os feedbacks, amadurecemos aquela funcionalidade até liberar para todo mundo.”
O refinamento constante levou o ClinApp a ter uma das avaliações mais altas de aplicativo de saúde na Google Play Store (4,7 em escala de 5, em 1º de fevereiro). Entre outras funcionalidades, uma é bem curiosa: proporciona que um beneficiário marque consultas num processo que se assemelha ao do Uber para transporte de passageiros.
“As funcionalidades são revisitadas o tempo todo para amadurecer. E uma delas foi a de marcação de consulta, com uma ideia bem, digamos, uberizada”, compara Neto.
“O cliente escolhe a localização em que quer a consulta, a especialidade que busca, a disponibilidade de tempo. Então nossos robôs contatam os profissionais. Aparecem pop-ups na plataforma dos dentistas para eles aceitarem ou não.”
Segundo Neto, quando o primeiro aceita, a consulta já é confirmada para o cliente. “Isso gera engajamento, porque os dentistas ficam mais ligados na plataforma para conseguir mais pacientes.”
Avaliação pelos clientes
Para os profissionais, a Clin tem um portal voltado para treinamento e capacitação, incluindo relacionamento interpessoal e gestão. Também – como nos aplicativos de transporte – há um sistema de avaliação dos dentistas pelos clientes.
Um controle de qualidade que pode levar ao descredenciamento se o odontólogo não se corrige mesmo depois de alertado para suas falhas.
“Quando termina o atendimento, o cliente recebe uma notificação do app e avalia o dentista. A gente dá o feedback para o dentista sem identificar o cliente. ‘Precisa melhorar aqui, o pessoal está falando muito isso isso…’”
O processo é, afirma Neto, bem aceito pelos profissionais. “Às vezes, o dentista está no consultório e não sabe como a secretária dele atende seus pacientes”, exemplifica.
“Apresentamos esses relatórios para que o dentista comece o processo de melhoria. Se percebermos alguém com avaliação muito baixa, nossa equipe entra em contato para entender o que acontece. Se notarmos que não melhora, ele é desligado da rede”, explica Neto.
Atualmente, a Clin tem mais de 170 mil clientes e 8 mil dentistas credenciados em todo o país, com operações comerciais em Pernambuco, Ceará, Paraíba, Alagoas, Bahia e Goiás. Com a inovação tecnológica constante, os planos para o futuro são de ultrapassar fronteiras. “Primeiro, o Brasil. Mas nosso processo de expansão inclui a internacionalização”, admite o CTO da empresa.