• Como a Pixeon se tornou uma das maiores inovadoras em gestão de saúde – e o que ela será com aquisição do BoaConsulta

    Iomani Engelmann, o cofundador da Pixeon: com a compra da BoaConsulta, a empresa amplia seu modelo de negócios para B2B2C e gerencia 50 milhões de pacientes e mais de 100 milhões de consultas e exames
    Jose Renato Junior | 2 nov 2020

    Dois mil e vinte, como sabemos, foi um ano desafiador para muitos, mas boas oportunidades surgiram para algumas empresas. A Pixeon soube aproveitar as que teve.

    Fundada em 2003 em Florianópolis, ela nasceu no mercado de medicina diagnóstica por imagem com soluções para que radiologistas pudessem trabalhar tomografias direto no computador e, neste ano, já contava com um portfólio completo para gestão de  hospitais, clínicas, laboratórios e centros de diagnóstico por imagem. 

    Só que a Pixeon manteve-se atenta. E, neste ano tão complicado, enxergou um caminho para expandir-se ainda mais ao comprar o BoaConsulta, plataforma de agendamento de consultas, sistema de gestão clínica e telemedicina. Com a aquisição, seu modelo de negócio passa a ser mais abrangente: B2B2C (business to business to consumer). 

    Contar bem essa história inteira exige uma volta no tempo para entendermos por que o movimento faz tanto sentido.

    INVESTIMENTOS E FUSÃO ESTRATÉGICA

    Oito anos depois de sua fundação, a Pixeon recebeu um investimento em 2011, da Intel Capital – o primeiro da divisão de investimentos estratégicos da Intel em saúde na América Latina. 

    Em 2012, a empresa catarinense realizou uma fusão com a paulista Medical System – líder no mercado de sistema de gestão de centros de diagnósticos por imagem do Brasil. 

    Já ficava claro, a partir daí, que a Pixeon traçaria uma jornada para aumentar ainda mais sua participação em diversos braços do setor – o que foi estimulado ainda mais graças ao segundo investimento recebido, um aporte de R$ 50 milhões da Riverwood Capital

    “O que percebemos após a fusão, quando nós tínhamos a solução completa de centro de diagnóstico por imagem, é que as outras verticais – como laboratório e hospitais – também sofriam com a baixa digitalização de informação”, afirma Iomani Engelmann, cofundador da empresa. 

    “Só para ter uma ideia, naquele momento, em 2013, menos de 25 hospitais do Brasil contavam com ERP [sigla para sistema integrado de gestão empresarial] completo no Brasil. Com isso, a gente comprou uma empresa em Salvador [a MedicWare] que tinha uma solução de gestão hospitalar e uma solução de gestão de clínicas, que complementava muito o portfólio da Pixeon”, diz ele. 

    “Isso não complementava apenas o portfólio. Florianópolis foi onde a Pixeon nasceu, São Paulo foi a base da Medical Systems até a fusão e, com a empresa em Salvador, houve também uma estratégia de complementaridade geográfica”, analisa. 

    A Pixeon transformou-se, assim, na primeira empresa brasileira com um portfólio completo de sistemas de gestão: trabalhavam tanto com clínicas e hospitais quanto para centros de diagnóstico por imagem e laboratório. 

    A expansão não parou e, e 2016, houve mais uma aquisição – um competidor de São Caetano do Sul, a DigitalMed, uma empresa muito forte no mercado de laboratório. Mas foi outra coisa que chamou a atenção da Pixeon: uma solução em cloud, já enxergado pelos executivos da companhia como algo importante naquela época (o que se comprovou nos anos seguintes). 

    E, em setembro deste ano, a Pixeon anunciou a aquisição do BoaConsulta – adquirindo, agora, meios de fazer parte da jornada digital com pacientes. 

    A sede da Pixeon, em Florianópolis

    A ESTRATÉGIA POR TRÁS DA AQUISIÇÃO DO BOACONSULTA 

    Para Iomani, a compra do BoaConsulta é uma estratégia que se justifica de uma maneira simples e inteligente: com ela, a Pixeon torna-se uma empresa fornecedora dos quatro principais mercados de saúde do Brasil. 

    “Nós fizemos esse ciclo de crescimento orgânico e inorgânico, que foi acelerado muito a partir do segundo investimento que tivemos, em 2013, pela Riverwood Capital”, analisa. 

    “Consolidamos as operações das empresas adquiridas e chegamos a números muito importantes para nós: hoje gerenciamos praticamente 50 milhões de pacientes por ano e o número de exames e consultas passa de 100 milhões”, comenta o cofundador. 

    “Também entendemos que existe uma oportunidade no mercado brasileiro referente ainda à convergência dos serviços de saúde para que a jornada do paciente seja facilitada.” 

    Segundo Iomani, três pilares fundamentam a última aquisição da Pixeon: 

    1) O BoaConsulta é um portal que facilita a jornada do paciente em encontrar o serviço médico, seja ele uma consulta, um exame ou qualquer outro serviço de saúde necessário. 

    2) A compra cria sinergia para o que Iomani chama de “ecossistema Pixeon”: a conexão de outras aquisições e serviços da empresa com a plataforma. 

    3) Com ela, é possível acelerar a adoção tecnológica através do próprio BoaConsulta, que tem um portal associado a um sistema para consultórios e pequenas clínicas – um nicho no qual a Pixeon ainda não atuava. 

    Essa complementação de portfólio resulta, segundo Iomani, no que eles chamam – e desejam aplicar como conceito – de “marketplace de saúde”. 

    “É onde todas as personas estão, tanto o demandante por serviços médicos – que é o próprio paciente – como os prestadores de serviço”, afirma. 

    Em números, isso representa a soma dos mais de 200 mil clientes da Pixeon com outros 5 mil usuários do BoaConsulta, formando uma grande rede de serviços médicos e buscando melhorar a experiência digital que é considerada, pela Pixeon, um grande desafio no país. 

    “Se a gente for receber agora um desafio para fazer um check-in de avião, reservar um hotel ou pedir uma comida em casa, eu tenho certeza que a gente vai conseguir fazer essa atividade em menos de dois, três minutos”, compara. 

    “Se formos fazer, nesse momento, um agendamento de um exame ou de uma consulta médica, talvez essa experiência não vá ser tão simples assim, porque vai depender de uma série de etapas, que muitas vezes não é uma experiência positiva e nem mesmo digital.” É esse cenário, diz ele, que a Pixeon quer transformar. 

    Isso derruba qualquer tese de que a pandemia causada pelo novo coronavírus tenha sido responsável pela aquisição – mas ela foi, sim, a “culpada” pelo primeiro contato entre as duas empresas.

    Pixeon e BoaConsulta firmaram uma parceria, no início da pandemia, para facilitar o teleatendimento e a telemedicina: a segunda empresa precisava oferecer a modalidade, enquanto a Pixeon tinha as soluções para isso. 

    O resultado? Dois milhões de acessos ao BoaConsulta em um único mês. “Já estava no nosso planejamento estratégico essa caminhada para a criação de um potencial marketplace, e nós estávamos estudando o mercado para ver qual seria o player que teria mais encaixe”, diz o empreendedor. 

    Eram importantes, para esse negócio, a complementaridade de portfólio da Pixeon, mas também a robustez do parceiro, já que um dos grandes desafios de um portal é já ter fluxo de paciente. 

    “Nesse quesito, o BoaConsulta, até pela própria experiência que tem, fez com que a Pixeon tomasse a decisão, acelerando nosso planejamento estratégico para começar a participar da jornada do paciente ativamente”, explica Iomani. 

    O PRESENTE E O FUTURO DA PIXEON 

    O impacto da pandemia no mercado de saúde em 2020 se resume em uma palavra: “depende”. Clínicas, por exemplo, precisaram ficar fechadas no auge da transmissão da Covid-19 no Brasil. Hospitais tiveram que se adaptar, se modernizar e oferecer mais leitos e suporte para pacientes. 

    E como ficou a Pixeon? “Foi o momento em que várias indústrias – e a saúde não pensa diferente – se transformaram digitalmente”, conta o cofundador. 

    “A Pixeon já estava muito bem posicionada em relação a isso. Então conseguimos fazer bons negócios, principalmente usando inteligência artificial na jornada do paciente, outro posicionamento que a gente defende muito.” 

    Se canais físicos estavam fechados, canais digitais recebiam uma demanda muito maior – o que tornou o ano da empresa razoavelmente positivo. “A gente espera manter a taxa de crescimento, apesar de termos sido impactados principalmente no segundo trimestre”, explica. 

    “O terceiro e o quarto já sinalizam uma retomada muito forte, o que faz com que entreguemos o número que tínhamos previsto para este ano – ou até superemos o planejado. Com o BoaConsulta certamente já vamos superar”, conta Iomani. 

    Se 2020 está terminando de uma maneira positiva, o mar também parece estar para peixe em 2021. A Pixeon pretende integrar as agendas de centros de diagnósticos, clínicas e hospitais, melhorando a oferta de serviços de saúde no portal BoaConsulta. 

    Além disso, planeja algo inédito no Brasil: o agendamento digital de exames por imagem. 

    “O BoaConsulta vai ser o primeiro portal a oferecer esses agendamentos – como por exemplo tomografia, ressonância, ultrassom, raio x – com uma experiência digital única, tanto pelo aplicativo quanto pelo próprio portal”, diz Iomani.

    O empreendedor deixa algo muito claro ao revelar os próximos passos: a Pixeon entende que aquisições não existem apenas para fortalecer o nome e o capital de uma empresa. 

    Escolhendo os lugares certos para investir, absorvendo e oferecendo soluções, afirma Iomani, é realmente possível construir uma gigante no mercado da saúde que, para além do nome, coloque de fato a mão na massa – pelo mercado e pelos pacientes

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