• Ginecologista via telemedicina? Como a Conexa conquistou médicos de várias especialidades

    Com experiência de três anos no mercado, a startup já tinha pronta uma solução robusta quando a pandemia bateu à porta – e só em 2020 realizou mais de 1 milhão de atendimentos
    Jose Renato Junior | 13 out 2020

    Há alguns meses, no auge da pandemia provocada pela Covid-19, a médica ginecologista Sandra Martins viu os atendimentos mensais de sua clínica no Rio de Janeiro despencarem 70%. O clínico geral e cardiologista Rodrigo Mousinho também tomou um susto quando metade de seus pacientes deixou de ir ao consultório. Tudo efeito colateral do vírus Sars-Cov-2 e a sensação de insegurança que ele provocou na população.

    Para não desassistir seus clientes, os médicos fluminenses usaram a mesma solução: o Consultório Virtual que a Conexa Saúde passou a oferecer para médicos pessoa física e pequenas clínicas. A empresa tem como carro-chefe uma plataforma digital que promove a conexão entre pacientes e profissionais de saúde, por meio da qual implementa serviços de saúde a distância.

    Fundada em 2017 pelo empreendedor Fernando Domingues, a Conexa é hoje a maior plataforma independente de telemedicina do país. Em seu comando está o médico Guilherme Weigert, que está desde o começo desta empreitada com o fundador da startup, a quem foi apresentado por um amigo em comum.

    Segundo Guilherme, a empresa nasceu como uma clínica de atenção primária. “Fernando olhava com interesse o cenário de clínicas populares, que estava crescendo, mas acreditava que o modelo poderia saturar e não resolvia 100% dos problema, além de ganhar dinheiro com exames”, explica. Não era isso que eles queriam.

    “Nossa ideia era que nossa clínica resolvesse os problemas dos pacientes, sem que ele tivesse que fazer coisas que não precisava”, explica.

    “Que modelo de clínica traria essa altíssima resolutividade?”, era o que eles se perguntavam na época.

    A SOLUÇÃO: TELEMEDICINA

    Um ano depois de aberta, a Conexa pivotou para o modelo atual, com a adoção da telemedicina. Era uma forma de escalar sua solução, mas também de ofertar o que o fundador queria.

    “A resolutividade era nosso objetivo principal”, diz o CEO. “No sistema 100% digital que passamos a oferecer, pudemos proporcionar para o paciente tanto o atendimento de atenção primária quanto o de especialidade.”

    Se a telemedicina hoje é amplamente divulgada e aceita, antes da pandemia o cenário não era tão favorável.

    “Toda disrupção passa por várias etapas. Não foi diferente com a telemedicina”, conta Guilherme.

    “Primeiro, queríamos provar que o produto funcionava. Conseguimos: o paciente dava nota 10 para o atendimento, o médico adorava a experiência.”

    Faltava, no entanto, a cultura da adoção. “Tivemos que visitar muito RH de empresa e de operadora de plano de saúde para ensinar o que era telemedicina”, relembra o CEO da Conexa. Em 2019, a primeira regulamentação da prática foi revogada menos de um mês depois.

    No entanto, o modelo foi ganhando fãs e mais e mais pessoas passaram a aderir. “Mais de 90% das pessoas que vão ao pronto-socorro não precisavam estar lá porque o que têm, na verdade, não são queixas de emergência”, diz o médico. “Essas queixas poderiam ser resolvidas com orientação ou com uma consulta, mas não no PS.”

    O cardiologista Guilherme Weigert, CEO da Conexa

    MUDANÇA DE HÁBITOS DA PANDEMIA

    Com a pandemia, tudo mudou. Os pacientes passaram a ter receio de ir até o PS porque sabiam que lá havia risco de transmissão do novo coronavírus. “Ao mesmo tempo, empresas, planos de saúde e os próprios hospitais precisavam de uma solução para cuidar de seus pacientes”, afirma Guilherme.

    Como oferecer esse cuidado se o próprio médico não estava mais atendendo em seu consultório e os pronto-socorros viraram locais de risco?

    “A telemedicina despontou como a grande iniciativa. Com ela é possível o médico ir até a casa do paciente e olhá-lo no olho.”

    Já pronta e madura, a solução oferecida pela Conexa foi amplamente adotada. Antes da crise sanitária a média de atendimentos era de 50 por dia. Agora, é de 15 mil. Desde o começo do ano já foram mais de 1 milhão de consultas e seus clientes saltaram de 150 mil para 4,5 milhões.

    O CEO conta que os atendimentos têm NPS (ou Net Promoter Score, uma métrica da satisfação e lealdade do cliente) de 90. “Nos pronto-socorros, ele gira em torno de 30 a 50.” Das avaliações feitas nas teleconsultas, 5% são encaminhadas ao PS e 80% são resolvidas ou direcionadas para um especialista logo na primeira avaliação.

    O direcionamento para um atendimento presencial gira em torno apenas de 10% a 15%. “Isso não nos surpreende, porque o número apenas corrobora aqueles 90% que não precisavam estar no PS”, afirma Guilherme.

    CONSULTA GINECOLÓGICA VIA TELEMEDICINA?

    Hoje, a Conexa conta com mais de 17 mil profissionais de saúde e 23 especialidades, de ortopedia à infectologia, passando por dermatologia e… ginecologia? Sim: a única restrição da telemedicina neste caso é a realização do exame preventivo, que exige que o médico toque a paciente.

    Com a telemedicina é possível, por exemplo, fazer consultas ginecológicas de rotina, prescrever exames, fazer a consulta de retorno e a triagem antes de encaminhar o paciente para uma consulta presencial ou pronto atendimento.

    “Algumas especialidades têm adesão maior, como dermatologia e cardiologia. Outras, como as áreas cirúrgicas, a telemedicina atende para análise de triagem”, explica o CEO da Conexa. “Para todas as especialidades há uma proposta de valor.”

    NOVO MODELO DE NEGÓCIOS NA PANDEMIA

    A Conexa só atendia B2B antes da pandemia em dois formatos: por meio da Rede Conexa, oferecendo atendimento médico, com modelo de fila que funciona 24 horas e com suporte tecnológico a médicos e paciente também 24 horas, e pela plataforma White Label, que oferta a solução como software licenciado.

    Entre as soluções oferecidas estão licenciamento da plataforma de telemedicina para hospitais e instituições de saúde, teleorientação (a empresa contrata a plataforma para proporcionar orientação médica a clientes ou colaboradores) e teleinterconsulta (para médico acionar remotamente um colega especialista e obter uma segunda opinião).

    Agora, no entanto, a startup passou a atender também o público B2C, focada em quem não tem plano de saúde e também em médicos como a ginecologista Sandra e o cardiologista Rodrigo, que abrem esta matéria.

    Para esses últimos, o Consultório Virtual promete oferece a mesma segurança e robustez da plataforma tecnológica consolidada pela utilização de grandes empresas clientes, como Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Prevent Senior, Dasa e Droga Raia.

    Em junho, a startup recebeu, em sua terceira rodada de investimento, um aporte de R$ 40 milhões provindos do fundo de private equity General Atlantic, da gestora de venture capital e.bricks e de Luiz Fraga, sócio da Gávea, e seu filho Guilherme Fraga.

    O recurso, explica o CEO, vai ser direcionado para aumentar a consolidação da plataforma em relação à tecnologia, para vendas e para novas verticais, como médicos que querem atender no consultório e também via telemedicina e para conectar os profissionais aos pacientes finais.

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